O aperto que perdura nos ônibus da cidade pode até sugerir o contrário, mas cada vez menos pessoas utilizam o transporte público em Cuiabá. Segundo a prefeitura, a cada ano, os coletivos da Capital perdem 5% de seus usuários para carros e motocicletas. Infelizmente, as atuais facilidades para compra em massa de veículos ainda não foram capazes de livrar os ônibus da pecha de “latas de sardinha”, mas têm sido suficientes para deixar as ruas insuportavelmente saturadas. Neste retrocesso, o “busão” acaba relegado quase que totalmente ao uso por parte dos que não têm mesmo condições de bancar um veículo.
Situação impensável para uma cidade que precisa democratizar o direito de ir e vir e proporcionar verdadeira qualidade na mobilidade urbana antes da Copa de 2014, o que só é possível priorizando o transporte coletivo. E o caminho para isso se espelha no exemplo mundialmente conhecido de Curitiba: o sistema de BRT (Bus Rapid Transit, baseado em canaletas exclusivas para ônibus rápidos), lançado pelos paranaenses em 1974.
Se tudo der certo, é ele que deve levar os cuiabanos, de todas as classes sociais, de volta aos ônibus; desta vez, sem apertos. Para a capital mato-grossense, o modelo desbancou o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e emplacou entre o meio político, sendo anunciado como principal intervenção para a mobilidade urbana, tal como em outras sub-sedes da Copa 2014. Funciona em pelo menos cem cidades no mundo – grande exemplo é Bogotá (Colômbia).
O sistema segrega nos principais corredores urbanos pistas centrais exclusivas para ônibus articulados de grande capacidade (alguns de até 270 passageiros), possibilitando viagens rápidas e confortáveis e deixando as pistas laterais para o tráfego dos demais veículos. Mas a realidade de Cuiabá, que cresceu desordenada, é marcada por ruas estreitas e tortuosas.
Daí a desconfiança: o BRT seria viável aqui? De acordo com a concepção que se tem do BRT na Grande Cuiabá até o momento (ver matéria), o sistema percorreria dois eixos: da avenida do CPA até o aeroporto Marechal Rondon, passando pela avenida da FEB (Várzea Grande), e do Centro à região do Coxipó, passando pela avenida Fernando Corrêa.
VIABILIDADE - A área urbana seria, portanto, cortada por corredores numa forma de “Y” que pode, sim, superar o apertado centro da cidade sem grandes problemas. “É viável, desde que se associe à integração, porque esse ônibus não entra em qualquer lugar”, avalia o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Tarciso Bassan, referindo-se à possibilidade de o cidadão utilizar ambos BRT e a rede de ônibus já presente na Capital em seus trajetos, uma vez que o primeiro se restringirá aos grandes corredores.
Outras preocupações de Bassan são a qualidade da pavimentação das canaletas exclusivas, que teria de ser de concreto, a acessibilidade e o conforto – principalmente para neutralizar o calor nos pontos. Quem acompanha a opinião do presidente é o professor Eldemir Pereira de Oliveira, especialista em Trânsito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), complementando que seriam poucas as desapropriações necessárias no meio urbano para dar passagem aos corredores do BRT: algumas, perto do rio Coxipó, ampliando a avenida Fernando Corrêa; outras, na Prainha, como na praça Bispo, para ganhar uma faixa a mais.
A prefeitura, por enquanto, também prevê que os obstáculos ao BRT seriam poucas desapropriações na área central e a ampliação da avenida do CPA. Mas a análise é ainda preliminar, segundo o secretário de Transportes Urbanos, Edivá Alves. Tanto que, por exemplo, ele diz não estar ainda certo de como teria de ser alterada a estrutura da Prainha. “Mas a prioridade vai ser o transporte público”, antecipa.
Fonte: Diário de Cuiabá
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