Em 1927, quando o então presidente Washington Luís declarou que "governar é abrir estradas", o País tinha exatos 93.682 automóveis. A necessidade de investimentos no transporte terrestre fez com que as ruas, estradas e rodovias se multiplicassem - numa medida inversamente proporcional à velocidade que os veículos conseguem de fato trafegar. Mais de 80 anos depois, no entanto, governantes de dezenas de municípios de todas as regiões do Brasil estão tentando repensar esses conceitos. Ruas não significam mais tanto progresso, mas congestionamentos. E hoje, com o rodoviarismo engarrafado, talvez governar seja simplesmente refazer trilhos.
Antes privilégio das grandes metrópoles, o transporte urbano sobre trilhos voltou à agenda dos municípios numa tentativa de aumentar a oferta de transporte público. Levantamento feito pelo jornal "O Estado de S. Paulo" mostra que somente as capitais brasileiras mantêm projetos para 700,1 quilômetros de trens, metrôs, monotrilhos e outros modelos do gênero - mais que a distância entre São Paulo e Belo Horizonte. Isso significa também dez vezes mais que toda a rede de metrô da capital paulista, implementada a duras penas em uma velocidade de 1,5 km por ano desde 1968. A imensa maioria dos projetos de expansão da rede metroviária será financiada pelo PAC da Mobilidade Urbana, que promete investir R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura de transportes.
A grande vedete do transporte metropolitano será definitivamente os Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), modelo que se tornou símbolo de modernidade e que pode ser adotado por 13 das 27 capitais. Isso sem falar em outros municípios, como Arapiraca (AL), Cariri (CE) e Maringá (PR), que também estudam projetos de VLTs. "Há alguns bons projetos, mas outros são claramente projetos de ocasião", diz o superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Marcos Bicalho.
Entre os especialistas, não há consenso sobre se foi o Brasil que descobriu um modelo novo para o transporte ou se foram as empresas estrangeiras que encontraram no País um grande mercado potencial. "Há claramente uma ofensiva das multinacionais. Isso não é um problema, desde que as cidades façam estudos adequados de viabilidade", completa Bicalho.
Os VLTs são trens de até 40 metros de comprimento, que trafegam necessariamente na superfície. Eles podem percorrer vias segregadas e interagir com o ambiente, funcionando como bondes modernos. "É um modelo amigável com a cidade, enquanto o ônibus é mais agressivo e contribui para degradar", diz Peter Alouche, consultor e especialista em VLTs.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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