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Entrevista com o presidente da ANTP, Ailton Pires: ''Transporte público oferecido hoje é lixo''

terça-feira, 21 de abril de 2009


Para o presidente da ANTP, Ailton Pires, a solução para os problemas de trânsito enfrentados hoje pelas grandes cidades passa por uma mudança cultural e também pela melhoria do transporte público. ´O desafio é transportar mais pessoas no mesmo espaço´, diz

Quais os principais desafios dos gestores de trânsito no Brasil?
A característica geral das questões que envolvem os problemas do trânsito passam pelo fato de que somos uma sociedade com uma cultura insuficiente. Isso não tem nos permitido trabalhar com o planejamento urbano. Temos, evidentemente, algumas cidades brasileiras que tiveram planejamento, como é o caso de Londrina, Goiânia, Belo Horizonte, Maringá e Palmas. Nestas poucas cidades, se fez um projeto dentro de um limite.

Mas há muito tempo esse limite foi ultrapassado, não?

Belo Horizonte foi feita para cem mil habitantes. Por enquanto, eles erraram em 25 vezes, pelo menos. Houve um planejamento e se imaginou uma obediência às poucas regras que havia, mas tivemos um crescimento populacional muito grande e não tivemos a cultura do respeito ao planejamento. Você tem cidades que, entre outras coisas, são caras. À medida em que a cidade vai inchando, eu continuo construindo na área central empreendimentos de todos os tipos: escolas, comércio, serviços, lazer, saúde. E, ao mesmo tempo em que eu vou valorizando esta parte da cidade, eu vou expulsando os mais pobres. É a nossa periferia, quanto mais longe mais pobre. O transporte público, desta forma, acaba sendo um dos aspectos mais penalizados. Você acaba fazendo com que o cidadão mais pobre more mais longe. Como a cidade não cresceu, ela inchou, você não tem um sistema viário amarrado para que haja uma mobilidade adequada. Com isso, você tem viagens mais longas e um trânsito ruim, sem priorizar o transporte coletivo, uma velocidade menor, um tempo de viagem maior e um custo maior. Ou seja, o mais pobre paga mais. Basta comparar a São Paulo de 1950 com a de hoje: a tarifa é três vezes mais alta. Um dos motivos é que as distâncias estão seis vezes maiores que antes.

A que se deve essa mania de importar soluções?

Primeiro, porque quem traz essas idéias são as classes mais altas. Essas pessoas odeiam ficar no transporte público, odeia congestionamento. Elas querem privilégios. Mas eu quero saber se elas topam pagar por esses privilégios. Não, elas querem que o Estado e todos os demais paguem pelos privilégios delas. É uma atitude ao mesmo temo ingênua e sacana. Vai ser implantado o pedágio urbano no Brasil? Talvez um dia e em pouquíssimas cidades. Primeiro porque é caríssimo e segundo porque a cidade não tem nenhum planejamento urbano. E quais são as alternativas? Primeiro, as classes A e B jamais utilizarão o transporte público. Pode cobrar o que quiser delas. Então, estamos discutindo uma coisa que é para as classes C, D e E. Esses todos podem vir para o transporte público. Só que sem conforto, confiabilidade, regularidade, ele não virá. Depois que um cidadão compra um automóvel, a probabilidade dele voltar para o transporte coletivo é muito pequena. Portanto, as classes A e B vão continuar usando (carro). Estaremos apenas encarecendo o deslocamento das outras classes, não estamos trabalhando a questão do uso do solo, continuamos deixando pólos geradores de tráfego serem construídos em locais saturados e não fazemos a mínima análise do que representam determinadas incorporações imobiliárias em alguns lugares. Resultado mágico é uma coisa que não existe.

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