Carros com financiamento fácil, mais estações de Metrô, atrasos e falta de investimentos no transporte coletivo. Apesar de todo o contexto urbano jogar contra, a cidade bateu novo recorde: nunca tantas pessoas optaram por andar de ônibus em São Paulo.
Dados da São Paulo Transporte (SPTrans) mostram que, em agosto, a rede de coletivos da Prefeitura (que inclui ônibus e lotações) transportou 264,9 milhões de passageiros, uma média de 8,8 milhões de viagens por dia. Mais do que o dobro do recorde do Metrô, de 4,2 milhões de viagens, em 13 de setembro.
Não há apenas uma explicação para o fenômeno. Para a Prefeitura, já é tradicional que os meses de março e agosto registrem os maiores números do ano. Tanto que o recorde anterior - 264,8 milhões - é de março do ano passado. Mas, neste ano, a procura pelos coletivos continua em alta. O mês passado também foi o mês de setembro com mais passageiros da história. Mas especialistas apontam outras causas, além da simples sazonalidade, ligadas à economia ainda aquecida.
Por outro lado, para o usuário, a chuva de números significa uma única coisa: aperto. Gerente de uma loja no Brás, Tamires Alves de Espíndola, de 21 anos, é um exemplo. Ela diz que sofre ao tentar levar uma vida normal, usando transporte coletivo. 'Saio do trabalho às 17h. É a hora que eu tenho para fazer compras. Mas não consigo andar de ônibus com as sacolas no horário de pico. Todo mundo fica olhando feio, como se só quem está indo para casa pudesse andar de ônibus.'
Desde que o bilhete único foi implementado na cidade - possibilitando integração com o metrô a custo mais baixo do que comprando as duas passagens -, o número de usuários do ônibus mais que dobrou. Em 2003, também segundo a SPTrans, a média era de 100 milhões de passageiros de ônibus por mês. E, de 2008 para cá, o número de passageiros cresceu 7%.
Mas só essa explicação não basta. 'Precisamos lembrar que o poder aquisitivo da população subiu. Se sobe, torna o transporte público mais atrativo. Pessoas que andavam a pé têm estímulo para andar de ônibus', diz o engenheiro de tráfego José Bento Ferreira, da Unesp.
Outro engenheiro de trânsito, Creso de Franco Peixoto, da FEI, vai em outra linha. 'As pessoas podem estar optando pelo ônibus porque é mais barato do que ir de carro. Ônibus não é a melhor opção, porque faltam investimentos, mas o cidadão acaba usando por falta de alternativa.'
Para a SPTrans, há mais passageiros porque os ônibus estão melhorando. 'Esse aumento foi possível por causa da renovação da frota, com modelos maiores e mais confortáveis. De 2005 a setembro 2011, foram substituídos 11.180 veículos', diz, em nota. 'Comparando a média de passageiros transportados em agosto de 2010 e agosto de 2011 nos dias úteis, verifica-se que houve acréscimo de 0,2% no sistema e o aumento da oferta de lugares foi superior a 3%.'
Mas nem todos os usuários concordam. 'Saio do trabalho às 17h e chego em casa às 20h. Só no terminal fico 50 minutos esperando o ônibus', conta Ramona Rodrigues, de 21 anos, que trabalha na Sé e mora em Cidade Tiradentes, no extremo leste. (Por Bruno Ribeiro)
Fonte: Estadão