A reestruturação do sistema de ônibus e microônibus da cidade de São Paulo, que a Prefeitura prevê implantar ao longo dos próximos dois anos, com novas licitações, vai mudar o destino da maior parte das linhas: em vez de se dirigirem dos bairros para o Centro, elas vão levar os usuários para o sistema de trens urbanos (Metrô e a CPTM). Nas regiões não servidas por sistemas sobre trilhos, as linhas de microônibus deverão levar os usuários de suas áreas de moradia até corredores rumo à área central.
Segundo o secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes, o novo sistema deverá estar implantado até o fim da atual administração, em 2012. “A idéia básica é que, com as inaugurações de linhas e estações de Metrô e trens em curso na cidade, a espinha dorsal do transporte público será o Metrô”. Moraes diz que a reestruturação tem três objetivos: “Um, integrar com o Metrô; dois, eliminar as sobreposições de linhas; três, eliminar essa diferença entre permissão e concessão”, diz, referindo-se à diferença entre as vans, de cooperativas permissionárias, e os ônibus, de empresas concessionárias.
“Hoje, todos fazem um pouco de tudo”, diz. Com essa mudança na estrutura do sistema, a nova licitação anunciada pela Secretaria de Transportes deverá reduzir uma das distorções mais visíveis do sistema atual, que são os inúmeros veículos vazios correndo em avenidas e corredores de ônibus, aumentando poluição e custos do sistema, desperdiçando combustível e o congestionamento dos corredores. “A falta de terminais impede que os usuários troquem de veículos nos corredores, então você tem ônibus vazios em fila em algumas avenidas”, diz o secretário. A intenção da secretaria é fazer licitações por conjuntos de linhas de forma a que uma mesma empresa ou cooperativa possa cuidar de linhas de microônibus e ônibus, melhorando sua integração. O modelo também pretende reduzir a necessidade de grandes terminais de ônibus no centro, criando unidades de passagem menores.
Alimentadores e troncos
O novo modelo completará o projeto planejado pela administração Marta Suplicy (2001-2004), mas nunca inteiramente implantado, que previa que o usuário fosse de pequenos veículos (“alimentadores”) de sua casa até as avenidas e corredores (“troncos”), onde pegaria ônibus maiores em vias rápidas. O sistema enfrentou reações das empresas, que ganham por passageiro transportado (e então, queriam linhas mais longas, para atrair mais gente ao longo do trajeto) e de passageiros (que não gostam de mudar de veículos, para não perder assento e pelo desconforto das trocas). Essa resistência deixa de existir quando a troca é por Metrô ou trens, mais rápidos que ônibus.
Terminal Campo Limpo diminuiu linhas para o Centro
Em alguns bairros, ônibus e microônibus já tiveram suas linhas reestruturadas. Esse é o caso do Campo Limpo, na Zona Sul. Com o terminal que leva o nome do bairro, inaugurado no fim de outubro de 2009, 29 linhas de ônibus deixaram de ir dos bairros direto para o Centro, passando pelas avenidas Francisco Morato, Rebouças, Consolação, Paulista e Nove de Julho.
Agora, com a mudança, esses passageiros utilizam 18 linhas dos bairros até o Terminal Campo Limpo. Lá, descem e embarcam em outro veículo, fazem a transferência para uma das nove linhas chamadas estruturais, que dão continuidade à viagem entre o terminal e locais como Centro, Pinheiros, Clínicas, estações Paraíso e Santa Cruz do Metrô, Aclimação, Praça da Bandeira e Santo Amaro.
As linhas com ponto final ou inicial no Terminal Campo Limpo transportam 270 mil passageiros por dia, sendo que 60 mil passam pelo terminal. A necessidade de transferência provoca reclamações dos passageiros. Segundo a SPTrans, a transferência de passageiros em terminais é necessária para evitar que todas as 1.300 linhas da cidade sigam para o Centro. Segundo a empresa, isso provocaria acúmulo de ônibus, com “sérios” reflexos no trânsito, na velocidade dos coletivos, e no tempo de duração das viagens nos corredores.
O sistema de redes com linhas que levam passageiros dos bairros aos terminais, corredores de ônibus e às estações do Metrô, é cada vez mais adotado, para reduzir os ônibus na região central. No mesmo modelo do Terminal do Campo Limpo, foram criados desde 2005 os terminais Sapopemba/Teotônio, São Miguel, Sacomã e Mercado.
A SPTrans informa que o tempo de desembarque e embarque nos terminais é compensado pela maior “velocidade dos ônibus nos corredores”. Outro exemplo é o da Av. Rebouças. Com a previsão da inauguração integral da Linha 4-Amarela do Metrô (Vila Sônia-Luz) em 2012, a Prefeitura quer diminuir os cerca de 300 ônibus que circulam por hora, diariamente, no Corredor Campo Limpo-Rebouças-Centro. A ideia é dimensionar a demanda de passageiros com o metrô e novos terminais que serão inaugurados em três estações: Vila Sônia, Pinheiros e Butantã.
Oito consórcios em São Paulo
De acordo com o site da SPTrans, o “sistema municipal de transporte é composto por uma rede integrada, criada pela Secretaria Municipal de Transportes, em conjunto com a SPTrans, em 2003. Essa rede permite um deslocamento mais rápido e a racionalização do uso dos meios de transporte na cidade”.
Esse sistema é composto por dois subsistemas: o sistema estrutural, no qual “linhas operadas por veículos de médio e grande porte (articulados, biarticulados e comuns), são destinadas a atender altas demandas e integrar diversas regiões às áreas centrais da cidade".
É a espinha dorsal do transporte coletivo. E o subsistema local, que "alimenta a malha estrutural e atende aos deslocamentos internos nos subcentros com linhas operadas por ônibus comuns e veículos de menor porte, como micro e mini ônibus.
"Ainda segundo a SPTrans, "para facilitar a organização das linhas, a cidade foi loteada em oito áreas, cada qual operada por um consórcio e uma cooperativa". A primeira área é a Zona Noroeste, que é composta pelo Consórcio Bandeirante de Transporte . A Zona Norte vem em seguida com o Consórcio Sambaíba Transportes Urbanos Ltda. Na Zona Nordeste, região da Cidade Tiradentes, está o Consórcio Plus. No local que é denominado como Zona Leste fica o Consórcio Leste 4. A Zona Sudeste é composta pelo Consórcio Via Sul Transportes Urbanos Ltda. Na Zona Sul, que é a maior delas, está o Consórcio Unisul. Na área em que fica a Zona Sudoeste está o Consórcio Sete. E na Zona Oeste fica o Consórcio Sudoeste de Transporte.
Fonte: Diário de São Paulo