Este mês, a Transcarioca completou três anos. Seu pouco tempo de existência, porém, não é refletido na qualidade dos serviços oferecidos, dizem usuários. Se a redução do tempo de viagem foi uma vitória, problemas como superlotação nos ônibus, falhas na integração com outros modais e insegurança nas estações se destacam nos relatos.
Nas últimas semanas, o Caderno Jacarepaguá ouviu moradores da região que utilizam o BRT Transcarioca, e esteve em duas das maiores estações do corredor: Taquara e Praça Seca. A quantidade de pessoas nas filas, mesmo fora dos horários de pico, comprova que a redução do intervalo entre os ônibus seria bem-vinda. Bilheterias sem funcionários e sacos de lixo nas passarelas também chamaram a atenção.
Diretor da Associação de Moradores da Taquara e membro da Coordenação de Mobilidade da Fam-Rio, Jorge Faria lembra que, há três anos, a chegada do BRT foi considerada positiva para o bairro, mas seus resultados ficaram aquém do esperado.
— A integração não funciona. Os ônibus alimentadores são uma esculhambação — diz Faria, que lista outros problemas. — Há estações degradadas e faltam bilheteiros. A partir das 22h30m, quase não tem ônibus no terminal da Taquara. Quem salta do BRT acaba tendo que completar seu trajeto a pé ou de mototáxi.
DOCUMENTO PARA LEVAR À CÂMARA
O BRT foi a principal aposta em termos de transporte público da administração passada. Após sua implantação, diversos ônibus convencionais foram extintos, e muitos se tornaram alimentadores, passando a fazer as ligações com o BRT. Um dos problemas para Jorge Faria é a falta de fiscalização sobre o funcionamento do sistema:
Com o fim de diferentes linhas, o BRT se tornou a principal opção de na Taquara - Zeca Gonçalves / Agência O Globo
— Parece que fiscalizam por telepatia, porque na rua não tem ninguém. Os intervalos entre os ônibus aumentaram. Antes do BRT havia 11 linhas da Taquara para Madureira. Hoje só há uma. Como o BRT não funciona direito, o resultado é a superlotação.
A auxiliar de enfermagem Marinete Valentim sofre com as falhas na integração. Ela usa o BRT diariamente, mas, quando volta do trabalho, às 22h, fica mais de uma hora esperando o ônibus alimentador no Terminal Taquara.
— Mas não tem opção. Por isso, os ônibus ficam muito cheios — diz Marinete.
A falta de segurança é outro problema. Morador da Praça Seca, Renan Rodrigues aprova a redução do tempo de viagem promovido pelo Transcarioca. Mas a violência o preocupa:
— Já houve arrastões nas estações. E muito vandalismo.
Em algumas estações da Transcarioca, há PMs. Mas a segurança deveria ser de responsabilidade do consórcio BRT, afirma Alexandre Fiani, presidente da Associação de Moradores da Praça Seca:
— A PM não tem efetivo para fazer a segurança do BRT. A prefeitura também estudou colocar guardas municipais, mas recuou justamente porque o contrato diz que isso é responsabilidade do consórcio.
Desde que linhas convencionais da Praça Seca foram extintas, Fiani organizou mobilizações e abaixo-assinados para conseguir que voltassem à operação. Duas linhas foram reativadas, a 766 e a 636, mas esta última já não passa pelo Hospital Curupaiti, em Curicica, que, segundo ele, seria a área mais importante a contemplar.
Fiani reuniu assinaturas de líderes comunitários em um ofício a ser enviado à Comissão de Transportes da Câmara dos Vereadores. Seu objetivo é pressionar o poder público a ouvir as demandas dos passageiros.
— O consórcio e a prefeitura precisam ir a campo ouvir as reclamações. Os intervalos estão muito grandes, a manutenção é falha, os ônibus estão superlotados, e eles ainda querem aumentar a tarifa — reclama.
O Caderno Jacarepaguá procurou o Consórcio BRT Rio e a Secretaria municipal de Transportes. Sobre segurança, o consórcio disse que é responsável apenas pela patrimonial, e a pública fica a cargo do poder público. Este ano, ressalta, os prejuízos com vandalismo já somaram R$ 3 milhões. O consórcio admite o aumento no tempo de intervalo entre os ônibus, e diz que ele é consequência da falta de sincronização dos sinais e de agentes de trânsito no corredor. Sobre a bilheteria, informa que os caixas fecham às 22h20m diariamente, restando a opção das máquinas de recarga. Já a secretaria disse que está revisando a racionalização das linhas de ônibus e que estuda o pedido de retomar o trajeto original do 636.