As queixas são frequentes e repetitivas: demora, ônibus danificados, motoristas despreparados e irresponsáveis.
Com o anúncio do reajuste de 9,01% no valor da tarifa, feito pelo prefeito Arthur Neto no apagar das luzes da última quarta-feira (28), véspera do feriadão da Semana Santa, os ânimos se excederam: estudantes protestaram e parlamentares começaram uma movimentação para tentar barrar o novo valor de R$ 3, praticado desde sábado (30).
|
O sistema de transporte coletivo passa por situação calamitosa, que exige paciência da população – foto: Diego Janatã |
Por parte dos usuários, a revolta não é tanto pelo reajuste em si – que já havia sido previamente anunciado pelo próprio prefeito como certo e necessário, mas sim pela situação do sistema.
Mesmo com o reajuste anterior que elevou o valor da passagem para R$ 2,75, em outubro de 2011, não houve melhorias aparentes além da aquisição de mais veículos na gestão anterior.
Com o tempo, a frota foi se desgastando – em parte culpa da própria estrutura do sistema viário da capital, onde a maior parte das ruas e avenidas, quando não estão esburacadas, possuem ‘banzeiros sólidos’, ondulações e irregularidades no asfalto que estressam qualquer motorista (e fazem a felicidade das oficinas).
Inevitável o aumento, há que se considerar o que a população de fato espera. “A tarifa de R$ 2,75 já era um valor alto. Pagar R$ 3 será pior, mas esperamos que isso possa melhorar”, aponta o jornalista Lucas Prata, 23, um dos milhares de dependentes do transporte coletivo que aguardam alguma providência mais concreta para mudar o quadro caótico.
A maior queixa? Difícil relacionar em ordem de importância. “Hoje a frota de ônibus é mal organizada. Às vezes o coletivo demorar mais de uma hora para passar, e quando passa são dois de uma vez, como a linha 122 (Santo Agostinho-Ceasa)”, afirma Prata. “Se o valor vai aumentar, o ideal seria aumentar as linhas de ônibus e ter novos e confortáveis veículos, mas não acredito em tanta melhoria no sistema, pois a cada aumento a prefeitura usa o argumento de que o transporte vai melhorar, e nada”, acrescenta.
Ao anunciar, no início do mês, que daria a palavra final sobre o novo valor da tarifa, o prefeito Arthur Neto declarou em alto e bom som que exigiria uma contrapartida do empresariado.
A sugestão? Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), similar ao que tentará botar ordem e segurança na utilização da praia da Ponta Negra. “Enquanto não houver um para o sistema, nunca vai melhorar”, atesta o jornalista.
A ‘nova velha’ história
Para o universitário Márcio Brenner, 22, surgem duas perguntas: para quê e por quê? “Todos os anos a história é ‘precisamos aumentar o valor porque a relação custo-benefício está sendo desvantajosa para as empresas de transporte’. E os usuários?”, questiona. “Quando o reajuste foi feito para R$ 2,75, deram uma declaração dizendo ‘se a população quer um transporte público de qualidade, deve pagar por ele’. Quase dois anos passaram e o que mudou? Continuamos pegando ônibus que apresentam defeitos mecânicos, lotados, com motoristas e cobradores insatisfeitos com seus salários”, frisou.
O rapaz vai além: para ele, a população ainda desconhece seu 'poder de fogo'. “Temos a sensação de que estamos pedindo favor em querer usar transporte público de qualidade. A população precisa entender que somos nós que fazemos isso tudo funcionar, que sem nosso dinheiro esses empresários estariam vendendo espetinho de carne nas ruas de Manaus”, frisa. “Com o reajuste, cabe agora à prefeitura pressionar os empresários, e a nós, trabalhadores e usuários, pressionar a prefeitura para que seja cumprido o acordo para termos um transporte de qualidade”, acrescenta.
João Vítor Verçosa, 20, universitário, também espera mudanças. “Lembro que o Arthur falou na campanha que não iria haver aumento na tarifa do ônibus se não houvesse melhora. Até agora, não houve mudança. Espero que isso ocorra o mais breve possível”, declara.
“O pior de tudo é que foi anunciado o reajuste um dia antes de um ponto facultativo para o município, ou seja, quando os acadêmicos procuram um ponto do Sinetram (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros) para comprar crédito se depararam com as portas fechadas. Todos estavam indignados”, lembra.
O reajuste está aí. Para quem utiliza o transporte diariamente, é tempo de cobrar. Ou continuar esperando o ônibus mais vazio passar.
*Colaborou Guilherme Alves