As capitais brasileiras ganharam 280 km de ciclovias e ciclofaixas entre em 2024, na comparação com o ano anterior, chegando a um total de 4.106,8 km. O aumento de 7,33%, no entanto, está abaixo do que as cidades poderiam investir para ampliar suas malhas cicloviárias.
É o que diz a Aliança Bike, responsável por consultar as prefeituras e produzir o levantamento, obtido com exclusividade pela Folha de S.Paulo. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e consideram o período de julho de 2023 a julho deste ano. A lista considera apenas as estruturas exclusivas para a circulação de bicicletas e separadas do espaço para veículos motorizados, excluindo, assim, as ciclorrotas.
São Paulo lidera com folga na extensão de malha, com 710,9 km de ciclovias e ciclofaixas, embora tenha acrescentado 21 km -um aumento relativo de 3,16%- até a data do levantamento. Atrás da capital paulista estão o Distrito Federal, com 551,5 km, que também teve o maior crescimento absoluto, adicionando 50,2 km às estruturas no período, e Fortaleza (443,1 km).
No outro extremo do ranking, Macapá (18 km), Porto Velho (23,5 km) e Manaus (28,1 km) têm as menores extensões. Outras cinco cidades ficaram estagnadas, e Vitória teve decrescimento. Segundo a entidade, o número pode ser explicado por alguma obra que interferiu em algum trecho de malha cicloviária.
Somadas, as capitais nordestinas têm a maior malha de ciclovias e ciclofaixas entre seus pares de outras regiões, com 1.287,3 km. A marca está ligada, segundo Daniel Guth, diretor-executivo da Aliança Bike, a uma forte cultura de uso da bicicleta.
Essas cidades têm uma cultura antiga de ocupação de espaços públicos, mais do que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, tanto pela questão topográfica e pela facilidade de trânsito quanto pelo acesso barato, especialmente quando a produção nacional deslanchou no fim dos anos 1950. O outro lado da questão seria o transporte público insuficiente, aliado à baixa renda como barreira para a compra de carros.
O crescimento relativo e o de quilometragem a cada 100 mil habitantes foram maiores em Goiânia, com 78,2 km de ciclovias e ciclofaixas, sendo 31,1 adicionados no último ano. Mas o total da malha é baixo, segundo Guth, e pode estar relacionado à expansão das ciclovias junto a diferentes rodovias que cortam o município.
Já a prefeitura diz que tem investido na ampliação das ciclofaixas e que a gestão atual, de Rogério Cruz (Solidariedade), construiu 20,46 km dessas vias em áreas estratégicas da capital goiana.
“Uma das intervenções mais importantes é a conclusão do Anel Cicloviário em 2022, que liga a avenida T-63 e a avenida dos Alpes, duas das principais vias da cidade. O circuito possui 13 km de extensão e cruza alguns dos bairros mais populosos da cidade.”
O trecho, segundo contagens semestrais da prefeitura, tem apresentado aumento de usuários. Ainda, a gestão espera fazer até o fim do ano uma licitação para construir mais 48 km.
Os principais fatores para uso da bicicleta, segundo o especialista, estão associados a como a cidade cresce e se organiza.
“Nos ‘alphavilles’ da vida, Los Angeles, nos EUA, ou subúrbios, o nível pode ser plano, um tapete, mas vai ter baixo uso. Porque as distâncias são longas, o desenho é favorecido para o uso de carro e baixo adensamento [populacional].”
A classe política que quiser favorecer o uso de bicicleta, inclusive, precisa bancar a decisão, segundo Guth. Ele cita como exemplo o uso de bicicletas em Paris, patrocinado pela prefeita Anne Hidalgo, que superou o de carros em abril deste ano, segundo estudo feito por empresas públicas e privadas da região da capital francesa
“Em São Paulo, o problema é a falta de vontade política. Tem recurso, tem projeto, tem demanda e tem programa de metas.”
A cidade prevê, segundo a meta, chegar a mais 300 km de ciclovias e ciclofaixas no fim deste ano.
Procurada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que foram entregues 49,7 km de malha desde 2021, em um total de 743 km.
Outros 263 km estão em diferentes fases de implantação, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), sendo 90 km pela Parceria Público-Privada da Habitação, 15 km em contratos vigentes na pasta municipal de transportes e 158 km em uma licitação em andamento.
Informações: Jornal de Brasília
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