A imobilidade do trabalhador pode ser vista e sentida por toda parte, em todos os centros urbanos. Em Pernambuco, ela tem um reflexo ainda maior no Complexo Industrial Portuário de Suape, no Litoral Sul do Estado. Propagado, principalmente pelo governo do Estado, como a locomotiva do desenvolvimento econômico pernambucano, a verdade é que hoje, em termos de infraestrutura viária e mobilidade, Suape é um péssimo exemplo. Sobrevive exclusivamente do fretamento de ônibus, o que gera custos exorbitantes, entre outros problemas. Depende do frete porque não há opção de transporte de massa. Nenhuma. Os criadores de Suape focaram apenas no crescimento econômico, sem preparar o caminho para se chegar a ele. Deixaram isso para depois e agora, para entrar ou sair do complexo, partindo da capital e em horários de pico, são pelo menos duas horas de trânsito e incertezas no caminho. Pelo menos por enquanto, a locomotiva está sem trilhos.
Os números do próprio governo refletem o tamanho da imobilidade do Complexo de Suape: dos 70 mil funcionários, 63 mil andam de ônibus fretados. Do total de deslocamentos, 90,7% são feitos por fretamento, 9% por automóveis e motos e apenas 0,3% por linhas de ônibus comuns. O imponente complexo possui apenas quatro linhas convencionais de transporte público, com intervalos que podem chegar a 1h e nenhuma delas sai do Recife, apenas dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. A partir da capital, ou se vai de ônibus ou de trem (locomotivas velhas, que levam quase 2h para fazer um percurso de 18 km) até o Cabo, pagando uma segunda tarifa para chegar a Suape. Ou seja, chegar de transporte público em Suape é difícil. Por isso o fretamento domina.
São 1.200 ônibus fretados entrando, permanecendo estacionados em áreas do complexo e saindo todos os dias de Suape. Mais do que um prejuízo financeiro - afinal, estima-se que o custo do fretamento seja de R$ 12 milhões por mês (as empresas não revelam o valor de forma alguma) - o fato de o fretamento mover Suape é simbólico porque retrata bem a falta de opção de mobilidade para o trabalhador. É tanto que o governo tem se incomodado com essa situação e trabalha, com a ajuda do governo federal (é claro), para investir R$ 230 milhões em mobilidade até 2015. “A situação está ruim, mas vai melhorar. Estamos preparando a infraestrutura para facilitar o acesso ao complexo e criando uma oferta de transporte coletivo de massa. Quando tudo estiver pronto, até 2015, as empresas terão opção para decidir se continuam ou não com o frete para transportar os funcionários”, aposta o diretor de planejamento e urbanismo de Suape, Jaime Alheiros.
Reportagem Especial sobre a Imobilidade do Trabalhador
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