Foto: Blog Meu Transporte |
O engenheiro e doutor em mobilidade urbana, Oswaldo Lima Neto, professor da UFPE, coloca a intermodalidade, uso de dois ou mais meios de transporte para locomoção, como solução para o trânsito. Para o especialista, isso requer uma mudança de cultura nos gestores e na sociedade civil.
Qual sua avaliação da atual malha cicloviária do Recife?
Até o governo de João Paulo (ex-prefeito do município) não havia nenhum espaço reservado aos ciclistas na cidade. O primeiro veio acontecer na avenida 21 de Abril, em Afogados. Apesar de não ter sido o ideal, foi quando começou a ser estabelecido a malha cicloviária. O problema é que o Recife queria a partir dali construir uma rede, mas, infelizmente, isso não aconteceu. Começaram a ser feitos pedaços de faixas pelo município, mas não foi fechada uma rede mínima. Obviamente, as pessoas têm grande dificuldade para se deslocar de bicicleta, além de não ter segurança.
Então, o que precisa ser feito para melhorar?
É preciso estabelecer uma rede mínima e expandi-la, que não é feita só de ciclofaixas ou ciclovias. Essa rede tem trechos até compartilhados, aonde precisa haver uma redução na velocidade, sinalização, enfim, todo um cuidado que garanta um mínimo de cuidado ao ciclista. As pessoas de baixa renda são as que mais usam a bicicleta, por exemplo, para ir ao trabalho. As avenidas Norte, Caxangá, Mascarenhas de Morais são algumas das mais utilizadas por esse público. Esses corredores deveriam ser unidos em uma rede.
Que ações poderiam ser feitas em vias onde não pode ser reservado um espaço exclusivo para a bicicleta?
Onde não se tem outra alternativa e é preciso haver o tráfego compartilhado, tem que ter sinalização adequada na via, reduzir a velocidade dos carros. O Código de Trânsito Brasileiro é muito claro sobre quem tem prioridade no trânsito: primeiro o pedestre, depois o ciclista, em seguida o transporte público e por último o carro. Infelizmente, essa regra está invertida na cabeça de muita gente.
Qual o impacto do uso da bicicleta, integrado a outros modais, na melhoria do trânsito da cidade?
A Cidade sai ganhando com toda viagem de automóvel que você reduzir. A Cidade está quase parando por conta de uma política que incentiva unicamente o automóvel. Intermodalidade é a palavra-chave. Tem que começar a cuidar das calçadas, torná-las caminháveis; dar condições ao ciclista de se locomover com segurança; ter onde colocar as bicicletas nas estações do SEI e do metrô e priorizar o transporte público. Contudo, isso requer uma mudança de cultura, principalmente na cabeça dos executivos, prefeito, governador. É preciso entender que se a gente não mudar para uma política de mobilidade sustentável vamos piorar as condições de vida na nossa Cidade.
Informações: Folha PE
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