A Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel) decidiu pela retirada de 1.100 ônibus das avenidas Almirante Barroso e Augusto Montenegro, por onde deve trafegar exclusivamente o ônibus de trânsito rápido, também conhecido por BRT - cuja obra caminha sem data marcada para conclusão. O cálculo mais otimista da prefeitura prevê a inauguração para o final de 2013. Os ônibus atuais que trafegam pelas duas avenidas serão substituídos, inicialmente, por 50 ônibus articulados, com capacidade individual para 170 passageiros, e por outros 50 biarticulados, onde cabem 250. Esses veículos devem transportar cerca de 600 mil passageiros diariamente, ou 45 mil a cada 60 minutos, segundo cálculos da própria Ctbel, a uma velocidade de 60 km por hora. O BRT terá paradas climatizadas a cada 700 metros e sistema de bilhete antecipado.
Nenhum técnico do governo municipal, porém, sabe explicar o que irá acontecer com os 1.100 ônibus que forem retirados do tráfego na Augusto Montenegro e Almirante Barroso e nem quais as novas rotas que irão fazer para conduzir os passageiros que, saídos do BRT, subirem nos coletivos para alcançar o centro da cidade. A CTBel prevê que 20% das linhas atuais deixarão de circular na cidade, mas anuncia que novas licitações serão realizadas para linhas que pretenderem prestar serviço à população, atuando como alimentadoras do BRT nos bairros da região metropolitana. Embora se digam “tranquilos”, os donos de ônibus cobram da prefeitura uma definição sobre o destino de suas linhas.
O BRT é um tipo de transporte público moderno e necessário para o povo de baixa renda. Tudo dependerá agora do novo inquilino do Palácio Antônio Lemos, o prefeito eleito Zenaldo Coutinho. E se ele entender que o sistema precisa de ajustes? Aí, fatalmente, surgirão novos termos aditivos capazes de encarecer a obra, hoje orçada em R$ 430 milhões. O que já existe foi bancado pelos cofres municipais. De verba federal ainda não entrou um miserável centavo.
DÚVIDAS
Por enquanto, continuam no ar perguntas importantes: como e onde irão operar as linhas que deixarem de circular pelo corredor? Haverá ou não grandes congestionamentos na Tavares Bastos, Júlio César, Lomas, Mauriti, Humaitá e Antônio Baena, transversais que passarão a ser as rotas diárias das linhas que alimentarão o BRT? Qual será o preço do bilhete único?
O preço da tarifa de ônibus, hoje, é R$ 2,20, valor tido como alto para o padrão da maioria dos usuários. Se passageiros reclamam do valor da tarifa, queixas sobre salários não faltam para o sindicato dos motoristas e cobradores. Os empresários, por sua vez, reclamam dos prejuízos da tarifa e das gratuidades. Mas as empresas não têm do que reclamar: a PMB perdoou dívida de R$ 84 milhões e reduziu de 5% para 2% o Imposto Sobre Serviço (ISS). Duciomar ainda aumentou o preço da passagem e não exigiu qualidade. De quebra, engavetou decisão da Câmara Municipal que previa a gratuidade nos ônibus aos domingos.
Terminal ainda não tem local definido
O diretor de Transportes da CTBel, Paulo Serra, explica que ainda não está definido onde ficará o terminal do BRT, se no local inicialmente previsto, a área onde hoje está abrigado o Lar de Maria, ou na Praça da Leitura, onde fica o memorial dedicado ao ex-governador Magalhães Barata, hoje servindo de abrigo para moradores de rua e drogados. A mesma indefinição ocorre com relação às estações de passageiros ao longo da Augusto Montenegro, que devem ficar em torno de 23, enquanto outras 8 ocuparão a Almirante Barroso, separadas entre si por uma distância de 700 metros.
“A Augusto Montenegro tem algumas peculiaridades, porque nela existem muitas linhas transversais de ônibus. A questão é fazer a distribuição das linhas que alimentarão o BRT, partindo de bairros como Águas Negras, Tenoné, Pratinha, Benguí e outros sem sobrecarregar nenhuma delas”, diz Serra. Ele sinaliza que os ônibus passarão pelas áreas mais internas dos bairros em busca de passageiros para conduzi-los até o mais próximo possível das paradas ou estações do BRT. Em seguida, retornarão para os bairros. Esses veículos estarão impedidos de trafegar com passageiros pela Augusto Montenegro.
Segundo Serra, o sistema BRT será acompanhado por um centro de controle de operações, cuja missão é verificar se há atraso ou pane nos veículos. Os motoristas terão acesso às informações em tempo real para cumprir os horários estabelecidos. Quando perguntado o que aconteceria se um dos ônibus do BRT der pane em pleno trajeto, o diretor respondeu que entre uma estação e outra haverá uma “rota de fuga”, para retirada do veículo, rebocado por guincho, para não atrapalhar o fluxo de outros ônibus pelas canaletas do sistema.
PESQUISA
É preciso observar, ainda de acordo com Serra, que a população precisa ser preparada para o fato de que ela não mais terá, após a entrada do sistema em operação, a ligação direta do ônibus que circula no bairro até o destino final, em São Brás. Isso será feito pelo BRT. Outra questão para a qual chama atenção é de que a mudança - seja com a retirada de 1.100 ônibus das duas avenidas, seja com a entrada dos ônibus articulados e biarticulados do BRT- será feita de forma gradativa, “Os 1.100 não sairão todos de uma vez, mas aos poucos”, avisa.
Ele também informa que, no caso das concessões de ônibus, as linhas atuais passarão por um processo licitatório para que sejam transformadas em linhas alimentadoras do BRT. A CTBel pretende fazer uma pesquisa para saber qual a demanda diária de passageiros dentro dos bairros para dotar as linhas de número suficiente de ônibus que irão conduzir esses passageiros até próximo das estações de embarque do BRT. Em vários bairros cortados pela Augusto Montenegro, por exemplo, o serviço é feito por microônibus, que possuem maior facilidade de trafegar por ruas estreitas.
Concessão de novas linhas está sub judice
A presidente da CTBel, Ellen Margareth, disse ao DIÁRIO que a maior das estações do BRT será a do local onde hoje funciona o parque de exposições agropecuárias do Entroncamento, que foi desapropriado pela prefeitura, embora encontre forte resistência de uma entidade de pecuaristas, que alega avaliação por valor quinze vezes menor do preço real, que seria R$ 60 milhões e não R$ 4 milhões, como definiu a prefeitura.
Os ônibus que vierem da BR-316 ou da Augusto Montenegro e que não seguirem pela avenida Pedro Álvares Cabral, segundo ela, terão que ir para esse terminal, onde estarão os veículos que serão usados como alimentadores do BRT. “A prioridade do nosso projeto é o ônibus, porque enquanto 420 mil carros circulam por toda a região metropolitana, mais de 1 milhão de pessoas se utilizam do transporte coletivo para deslocamento.
Margareth esclarece que no caso da concessão de novas linhas há um processo sub júdice, de interesse do sindicato dos proprietários de ônibus e cujo mérito ainda não foi julgado. “Vamos fazer todo o reordenamento do sistema de linhas, porque não podemos eliminar ônibus em razão do aumento crescente da população. “O sistema que temos hoje funciona à título precário”, reconhece.
AUMENTO
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel) evita polêmica com a prefeitura sobre as mudanças que serão provocadas pelo BRT, a saída dos ônibus dos dois principais corredores de tráfego da cidade e as novas licitações para exploração do serviço de alimentação ao BRT. Nenhum diretor quis se manifestar, mas para a assessoria da entidade não há apreensão, apenas expectativa quanto à participação das empresas em um consórcio que irá administrar o novo sistema de transporte popular.
De uma coisa os empresários têm certeza: a passagem deverá sofrer reajuste. Quanto a esse aspecto, nenhuma novidade. Sobretudo para a maioria da população, sempre a maior sacrificada na hora da facada no bolso.
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