Dona Munira Feola, 65, sabe que muito mais carros circulam pela Penha porque o comércio dela fica numa das ruas mais movimentadas do bairro, a Dr. João Ribeiro.
"Esse movimento todo é até bom para o comércio, mas para os moradores...", diz ela, que mantém a mesma loja de roupas básicas fundada por seu pai, em 1924.
Na zona leste, de 2008 para cá, houve um aumento no número de pessoas que usam o carro para ir ao trabalho, revela a pesquisa Datafolha. O índice foi de 12% para 19%.
A Penha e o São Lucas tiveram a maior alta dos 31 distritos. Em ambos, o percentual saltou de 13% para 29%.
Também houve variação na Vila Matilde (de 10% para 24%), em São Mateus (de 13% para 26%), no Parque do Carmo (de 13% para 25%) e na Água Rasa (de 19% para 30%).
Se há mais carros nas ruas, por consequência, mais reclamações de trânsito estão na boca dos moradores. Em 14 distritos, houve piora.
O campeão de irritação é o Tatuapé, que dá nota 3,7 para esse item.
Gabo Morales/Folhapress |
Reclamam ainda José Bonifácio (onde a nota foi de 7,1 para 5,3), São Miguel Paulista (de 6,5 para 5,2), Cidade Tiradentes (de 6,4 para 5,2) e Iguatemi (de 5,9 para 4,8).
A Penha vem na sequência. Nos últimos quatro anos, a nota caiu de 6,2 para 5,5.
O urbanista especialista em trânsito Flamínio Fichmann, 54, fez um estudo, no ano passado, sobre o trânsito na zona leste da cidade.
O trabalho dele constatou que 70% do espaço físico utilizado pelos meios de transporte são destinados aos carros, enquanto 12%, aos ônibus e 18%, ao metrô e trem.
"O que existe é uma inversão de valores. O carro não deveria ter tanto espaço assim", critica Fichmann.
Segundo ele, as ruas da cidade têm mais carros, primeiro, porque a facilidade de crédito impulsionou as compras.
Segundo, porque o transporte coletivo não oferece o mínimo de conforto e nem a qualidade necessária.
"Uma alternativa para desafogar o trânsito na região seria a criação de linhas expressas de ônibus na Radial Leste", sugere o urbanista.
"Seria o caso ainda de ter uma linha exclusiva na marginal Tietê para o uso dos ônibus", completa.
Foi o excesso de trânsito, inclusive, um dos principais responsáveis para que os filhos da dona Munira, Gustavo, 38, e Alessandra, 40, não tivessem a mesma infância que ela teve.
"Minha mãe foi criada na rua, brincando na calçada, já eu e minha irmã ficávamos mais dentro de casa. Ela tinha receio", diz Gustavo.
A CET disse que vem trabalhando para melhorar a fluidez dos carros e ainda aumentar a velocidade dos ônibus na cidade em até 15% até o fim do ano.
Para isso, na região leste, já implantou faixas exclusivas em parte da Radial Leste e, no mês passado, das avenidas Itaquera e Líder.
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