Quanto mais bicicletas nas ruas, mais acidentes, certo? Errado. Apesar de não haver estatísticas locais que comprovem aumento da circulação de bikes no Recife, essa é a percepção de motoristas, ciclistas e até do presidente do Instituto da Cidade, órgão vinculado à Prefeitura do Recife, Milton Botler. Mas o número de acidentes e mortes envolvendo bicicletas não tem aumentado. Pelo contrário. O Diario analisou os dados colhidos por órgãos de trânsito e de saúde nos últimos cinco anos. Em todas as estatísticas, a quantidade de ciclistas feridos ou mortos em acidentes caiu.
Os dados ajudam a desmontar os discursos dos políticos que defendem as ciclovias como estrutura cicloviária máxima e imprenscindível à presença da bicicleta nas ruas. Ao contrário das ciclofaixas e das ciclorrotas, as ciclovias têm barreiras físicas que isolam o trecho permitido às bikes das faixas de rolamento destinadas aos carros.
Mas atrás da moda do discurso da ciclovia estão alguns problemas. Um deles é que, segundo professor da disciplina estudos da bicicleta, que começará a ser ministrada no próximo semestre na graduação de engenharia mecânica da UFPE, Fábio Magnani, e o arquiteto e ex-presidente da Empresa de Urbanização do Recife César Barros, a maior parte dos acidentes ocorre nos cruzamentos à direita, onde não é possível haver barreiras físicas para separar as bicicletas dos carros.
Outro entrave é o custo de implantação da ciclovia, naturalmente mais alto que das soluções que demandam apenas sinalização. E ainda há um terceiro problema: o reforço do discurso de que carros e bicicletas não podem compartilhar a mesma via de forma harmônica.
A capital pernambucana só tem 28,4 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. Número irrisório quando se sabe o potencial cicloviário da cidade. O Plano de Mobilidade do Recife prevê a instalação de 424 km de estrutura para o trânsito de bicicletas. E poderiam ser muito mais: 2 mil km. Para viabilizar tudo isso, é necessário sair do discurso da ciclovia como única alternativa e implantá-la onde, de fato, há necessidade, como vias de tráfego rápido.
Alguns avanços - No Recife, é permitido entrar com a bicicleta no metrô, mas há restrições. Nos horários de pico durante a semana, não sobra espaço para as bikes. Por isso, elas só são bem-vindas nos metrôs nos fins de semana. É um começo, mas não é o ideal (afinal, bicicleta não é só instrumento de lazer).
Outro avanço foi anunaciado pela Secretaria das Cidades. Até o fim do ano, todos os 25 terminais integrados de ônibus terão bicicletários. Ótimo para quem quer usar a bicicleta em parte do seu percurso diário. E nesta semana deverá ser, finalmente, anunciado se haverá ciclovias nos três corredores exclusivos para ônibus que serão criados até 2014 - corredor Norte / Sul (33,3 km de extensão), Leste / Oeste (12,3 km) e o Ramal da Copa (6,3 km), totalizando mais 51,9 km de estrutura cicloviária.
Legislação - Deixar de guardar 1,5 m de distância lateral ao passar ou ultrapassar um ciclista é infração média e custa R$ 85,13 e quatro pontos na carteira. Mas é importante lembrar que a mesma legislação que dá direitos também prevê obrigações para quem trafega sobre uma bicicleta.
É só prestar um pouco de atenção nas ruas para ver como várias dessas regras são descumpridas cotidianamente, seja de forma proposital, por falta de conhecimento, falsa sensação de segurança, para driblar obstáculos ou mesmo por não se sentir parte do trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que a bicicleta é um veículo e precisa ser manejada como tal. Isso inclui o respeito aos sinais de trânsito, à faixa de pedestre, às calçadas e a obrigatoriedade de trafegar no mesmo sentido de circulação da via.
Entre os direitos do ciclista está um que tenta assegurar sua segurança - os carros precisam reduzir a velocidade ao ultrapassar uma bicicleta. O não cumprimento desta norma constitui infração grave, com cobrança de multa no valor de R$ 127,69 e 5 pontos na carteira.
Fonte: Diário de Pernambuco
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