É como estar numa pipoqueira. A definição é da usuária, sentada no ônibus que passa pelo corredor exclusivo da Avenida Francisco Morato. Tudo trepida e o cobrador segura a gaveta por causa das irregularidades, dos buracos e dos remendos mais altos que o pavimento. Promessa de campanha do prefeito Gilberto Kassab, tanto manutenção dos dez corredores existentes como contrução de novos 66 quilômetros ainda não saíram do papel. Ao todo, os corredores totalizam 120 quilômetros para uso exclusivo de ônibus, táxis com passageiros, viaturas e ambulâncias.
Segundo a SPTrans, sete corredores estão em licitação para reforma. O orçamento prevê por ano R$ 8,4 milhões na manutenção de corredores e paradas. O recurso empregado no ano passado, porém, ficou em R$ 7,2 milhões.
A reportagem testou quatro corredores e detectou que os 13,8 quilômetros do Campo Limpo-Rebouças-Centro são os mais castigados. Diferentemente do trecho da Avenida Rio Branco, que parecia um tapete da Alameda Nothman até a Avenida Marques de São Vicente (veja no mapa). Pena que o trajeto da estudante de radiologia Thaís Suzart, 18 anos, não contemple a via. Ela tenta ler dentro do ônibus, mas é obrigada a desistir. Buraco e trepidação causam incômodo à passageira, que reclama do corredor Rebouças-Consolação. "É muito difícil. O jeito é esperar o veículo entrar numa pista que não balance tanto assim", disse.
Concreto/ De acordo com o engenheiro e consultor de trânsito Horácio Figueira, para evitar deformação nos corredores, a via deve ser pavimentada com concreto. "O ônibus vai cavando o pavimento mesmo que se faça bem dimensionado. O asfalto acaba não aguentando. Vão pingando combustivel e óleo, que reagem quimicamente com o asfalto e diminuem sua vida útil", explica Figueira. Segundo ele, corredores como os que atravessam o Ibirapuera e Avenida Nova de Julho são de concreto. Já o da Rebouças-Consolação, entregue ne
gestão petista, foi aproveitada a avenida.
Em promessa de campanha, Kassab asseverou a construção de 66 quilômetros de corredores. Procurada, a SPTrans não informou sobre o andamento da promessa ou se serão aproveitadas vias já existentes para a instalação de corredores. Em 2008, então candidato à reeleição, o prefeito criticou os corredores de ônibus instalados por antecessores, em referência à petista Marta Suplicy.
O democrata disse que fez corredores "como devem ser feitos", e não isolou uma faixa da avenida e colocou tachões. Para o especialista, mesmo sem o pavimento adequado mais corredores para ônibus devem ser implantados.
Nas contas de Figueira, para cada novo corredor implantado é possível transportar dez mil passageiros por hora (numa via com semáforos). Para o mesmo resultado, seriam necessárias dez faixas de automóvel.
Além da falta da divulgação de um cronograma de manutenção, o engenheiro critica a "permissividade" na utilização dos corredores. "Entra táxi, tudo. É a casa da mãe Joana, uma piada. Primeiro a ser feito é retirar os táxis e implantar mais 300 quilômetros de faixa exclusiva. É preciso operar a cidade a favor do coletivo", reforça Figueira.
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