O conceito do transporte público do futuro, aquele do corredor inteligente com ônibus no mesmo nivel das paradas, com horário certo de chegada e partida, com estações climatizadas e pagamento antecipado, a gente já conhece e aguarda a implantação, prevista nos principais corredores de tráfego Norte/Sul, Leste/Oeste e Avenida Norte até a Copa de 2014. Esse conceito, que a gente ensaia fazer aqui, já é realidade em 20 países e a ideia, que não é nova, surgiu em Curitiba na década de 1970 pelas mãos do urbanista Jaime Lerner, o mesmo que elaborou o projeto do Norte/Sul.
A preocupação com o transporte do futuro foi um dos temas debatido ontem no Congresso Internacional Cidades Sustentáveis, promovido pelo Sindicato da Arquitetura e de Engenharia (Sinaenco-PE),no Centro de Convenções, em Olinda. E traz no centro do problema o desafio de aumentar as restrições para os carros individuais e atrair esse público para o coletivo.
Há, no entanto, um consenso de que não basta apenas melhorar a qualidade do transporte nos corredores. As linhas alimentadoras são tão importantes quanto. Os caminhos que antecedem os corredores são longos e penosos e dificultam qualquer logística de deixar o carro em casa. A dona de casa Jaciara Minervina, 32 anos, não tem essa opção. Depende do ônibus. Ontem, enquanto aguardava a condução, numa espera de 40 minutos, em uma parada ao lado do Largo da Paz, no bairro de Afogados, conversava com um olho nas compras e outro na rua. O ônibus, que faz a linha Jaboatão/Centro, da empresa Santa Cruz e ligada ao Sistema Estrutural Integrado (SEI), chegou finalmente. Mas parou muito distante da parada. Não só ele.
"Vou ter que correr agora, senão perco o ônibus", contou. Conseguiu ajuda de outro passageiro e subiu em um ônibus já lotado, atravessando quase metade da pista. Não deu tempo perguntar o que ela esperava do transporte do futuro. A pergunta foi então para o aposentado José Nunes Filho, 76. A resposta veio imediata. "Colocar mais ônibus. A gente espera muitotempo e vem tudo lotado", reclamou. "Isso também, mas o que o senhor gostaria mais?
Por exemplo, paradas de ônibus climatizadas, com o ônibus parando pertinho, sem precisar correr e já saber o horário de chegada. Que tal?", insisto. Ele não tem dúvidas: "Acho que se colocar mais ônibus já fica bom", considerou o aposentado, que não tem nenhum parâmetro para exigir o contrário.
O contrário do que José Nunes conhece é possível e deve ser prioridade para não transformar em caos um trânsito já ruim. Para o engenheiro e ex-professor de trânsito da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Colombine, as linhas alimentadoras precisam também se tornar atraentes. Com a experiência de quem ajudou a implantar o Tranporte Rápido por Ônibus (TRO) em outros países, ele explica que a multiplicação dos automóveis não comporta nas vias existentes e o fenômeno dos engarrafamentos deixou de ser dos grandes centros urbanos.
"Há carro demais e ruas de menos. É preciso investir no transporte público em toda sua dimensão, corredores e linhas alimentadoras", enfatizou. Ainda segundo ele, o transporte não motorizado, no caso o pedestre e o ciclista são complementares. "Isso significa calçadas em condições de uso e cliclovias. É isso ou esperar o caos, como já acontece nos grandes centros urbanos", ressaltou.
Fonte: Diário de Pernambuco
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