Com mais uma etapa da licitação do transporte coletivo de Curitiba concluída, é possível saber o que os consórcios participantes da concorrência se comprometem a fazer para tornar a frota mais ecológica, acessível e eficiente até 2012. Contudo, ainda não se sabe o quanto essas mudanças podem pesar no bolso dos usuários de ônibus. Ontem, foi divulgado que os três únicos concorrentes – consórcios formados por 11 empresas que já atuam no sistema – atingiram pontuação máxima na avaliação técnica. Com isso, começou a última etapa do processo para avaliar o preço tarifário proposto.
- A licitação do sistema de ônibus é a primeira da história de Curitiba. As atuais empresas que operam o sistema atuam há décadas sem nunca ter passado por seleção. A Constituição de 1988 passou a exigir a concorrência. Em 2001, o Ministério Público exigiu que a lei fosse cumprida, mas só agora a licitação está acontecendo.
O valor que as passagens de ônibus podem atingir para ser mantido o equilíbrio do sistema só deve ser estimado depois que as propostas comerciais dos consórcios sejam avaliadas pela comissão de licitação. Nem mesmo os preços apresentados pelos consórcios foram divulgados. “Seria uma irresponsabilidade divulgar esses dados sem serem aferidos. As propostas ainda podem ser desclassificadas”, afirma o presidente da comissão de licitação da Urbanização de Curitiba (Urbs), Fernando Ghignone. Ele diz que não é possível afirmar que o valor das passagens aumentará, mas admite que o custo atual com o sistema não é coberto pelo valor das tarifa.
- O consultor em logística e professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck explica que não é possível saber exatamente qual o preço de equilíbrio do sistema de transporte. Mas a tendência é de que a licitação faça com que a nova tarifa de equilíbrio seja maior que a atual. A nova fase do processo licitatório deve ser concluída ainda neste mês.
O engenheiro civil Eduardo Ratton, também professor da UFPR, diz que é preciso ver com cautela o possível aumento da passagem. Uma elevação da tarifa, mesmo necessária, poderia afastar passageiros do sistema. “Acho arriscado aumentar, principalmente se comparado ao transporte individual que tem feito com que o transporte coletivo perca passageiros”, diz. Em março, o Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Paraná (Sindiurbano-PR), calculou que a passagem deva ficar cerca de R$ 0,30 mais cara, atingindo R$ 2,50.
- As empresas que participam da licitação apresentaram várias propostas de melhoria. A partir da assinatura do contrato, as empresas têm 24 meses para cumprir as metas. Caso contrário, pagarão R$ 250 mil para cada meta não atingida. O valor vem do depósito de R$ 10 milhões feito como garantia no início do processo.
Na prática, o total de ônibus nas ruas e canaletas da cidade continuará o mesmo. Serão 1.399 veículos para atender 250 linhas. No entanto, cada consórcio ofereceu melhorias operacionais – ainda não há projeto para saber como as mudanças funcionarão.
- As empresas comprometeram-se com a circulação de ônibus menos lotados e com mais espaço aos passageiros. Hoje, segundo a Urbs, o índice é de seis passageiros em pé por metro quadrado. Total que deve ser diminuído para pelo menos 5,4 (10% de redução).
O acesso de cadeirantes e de pessoas com dificuldade de locomoção nos ônibus também deve ficar mais fácil até 2012. Pelo menos 858 (80%) dos 1.073 ônibus com degraus da frota atual deverão estar equipados com plataformas elevatórias. Hoje, este número é de 600 (56%). Além disso, pelo menos 60 linhas terão de estar com o tempo de viagem diminuído.
- A preocupação ambiental também esteve focada no edital e nas propostas dos consórcios. Em dois anos, os seis ônibus da Linha Verde que funcionam só com biocombustível devem ganhar companhia. A promessa é de que entre 70 e 140 veículos sigam o mesmo padrão. Já 804 ônibus convencionais e todos os 326 biarticulados e ligeirinhos deverão operar com motores menos poluentes. Cada consórcio também se comprometeu a oferecer para ações sociais, fora dos horários de pico, 9 mil quilômetros rodados por mês à prefeitura sem qualquer custo. Hoje, segundo a Urbs, qualquer deslocamento solicitado às empresas é cobrado conforme a distância percorrida.
Outra medida a ser tomada está voltada para a capacitação dos funcionários para tornar o sistema mais eficiente e seguro e melhorar o relacionamento com os usuários de ônibus. Eles deverão passar por pelo menos 81 horas de cursos todos os anos – diferentemente das 50 horas que fazem quando são contratados e das 16 horas de atualização a cada cinco anos.
- Para Reck, tais mudanças não significam uma grande inovação no sistema. “Não que eu considere que não precisem ser feitas. São medidas de otimização operacional, praticamente reproduzem o que já existe”, justifica. Ele acredita que essas modificações possam ser feitas sem afetar o preço das passagens. “Nesses dois anos pode-se eliminar alguns desperdícios. Podem evitar custos mortos que sejam revertidos na melhoria da qualidade do serviço”, afirma.
Fonte: Gazeta do Povo
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