Até dezembro, a Braskem entregará à Companhia Brasileiro de Trens Urbanos de Alagoas (CBTU) um projeto com o novo traçado da linha férrea de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) Maceió- Rio Largo. A autarquia federal entrou com ação na Justiça para cobrar pelos transtornos à empresa, aos usuários do sistema e os custos estimados em R$ 1,2 bilhão de construção do novo trajeto do VLT por causa do perigo de “afundamento” do solo em parte do trajeto original entre os bairros de Bebedouro, Mutange e Bom Parto. Um acordo entre as partes foi fechado com ajuda do Judiciário e gerou os projetos que estão sendo elaborados por uma consultoria internacional contratada pela Braskem. O projeto prevê a nova rota que passará pela parte alta da capital e longe das áreas de risco onde estão localizados as minas de sal-gema da empresa química. A CBTU confirmou que cinco projetos estão em estudos para realocação das linhas do VLT no novo percurso que interliga o bairro de Jaraguá, em Maceió, à estação de Lourenço Albuquerque, em Rio Largo.
Os projetos são resultados da ação judicial movida pela companhia contra a Braskem. A empresa causadora do problema propôs o acordo que estabelece a construção da nova rota férrea
Além dos transtornos no sistema de transporte de passageiros, a autarquia admite que perdeu mais de 11 mil passageiros/dia com os problemas geológicos nas minas de sal-gema. As linhas de trens foram interditadas entre as estações de Bebedouro e Bom parto. A população moradora do local [mais de 80%] já foi retirada e indenizada.
A Defesa Civil municipal confirma o risco de colapso na área com repercussões imprevisíveis e vetou o tráfego do VLT e dos veículos nas regiões. Hoje, o trajeto dos trens está dividido em dois trechos: norte e sul. Os passageiros fazem baldeação em ônibus fretados entre as estações de Bebedouro e Bom Parto.
Por causa do risco de afundamento do solo na região, a Braskem admite que pagará indenização, orçada em R$ 1,2 bilhão. A CBTU não quer o dinheiro, mas cobra que a empresa causadora dos transtornos banque as obras do novo traçado dos trilhos do VLT. A informação obtida pela Gazeta foi confirmada pela gerente de operações da companhia, Morgana Moraes. “Quando a empresa acionou a Braskem na Justiça, a indústria propôs uma negociação no sentido de bancar as obras de reconstrução do novo trajeto do VLT”, revelou Morgana, ao acrescentar que hoje existem cinco projetos em estudos de relocação da via-férrea, como forma de ressarcir os danos causados naquela área suburbana.
“Até dezembro [deste ano] deverá ser concluída a negociação entre CBTU e a indústria, que apresentará a proposta do novo traçado da linha férrea”. A data para início da construção só será definida depois que a autarquia aprovar o projeto definitivo.
Com as negociações e os estudos em andamento, nem a autarquia nem a empresa revelaram detalhes a respeito do novo traçado do VLT. Porém, a ação judicial cobra ressarcimento de R$ 1,2 bilhão, confirma a gerente de operações. Durante as negociações, a companhia manifestou que quer, como ressarcimento, a obra concluída e bancada pela Braskem.
O prazo de conclusão só será definido depois que a direção técnica da CBTU aceitar o projeto. O novo traçado da via deverá contemplar infraestrutura de novas estações de embarque e desembarque, oficinas de manutenção, postos de abastecimento e outros detalhes que está sendo estudado por uma consultoria internacional, revelou uma fonte da Braskem e confirmou a gerente de operações da autarquia federal. Até agora as despesas com os consultores internacionais são bancadas pela indústria química.
Usuários
O VLT transportava diariamente 11 mil passageiros de Rio Lago para Maceió. Após os problemas geológicos causados com desmoronamento das minas de sal-gema da Braskem no trecho entre os bairros de Bebedouro e Bom Parto, o tráfego de trens no traçado original foi interrompido. Agora acontece em dois trechos: entre Jaraguá até a estação de Bom Parto, onde os passageiros fazem baldeação em ônibus fretados até Bebedouro e de lá segue viagem até o município de Rio Largo e vice-versa.
Essa baldeação prejudicou os usuários, que pagavam R$ 5 pela passagem de ida e volta entre Rio Largo- Maceió. Esse mesmo trajeto feito por transporte coletivo [em ônibus ou vans] fica em R$ 14, ida e volta. Por causa dos transtornos, o número de usuários caiu para 2 mil/dia. Para piorar a vida dos mais pobres que dependem daquele transporte, os estragos causados pelos temporais interromperam o tráfego entre Bebedouro a Rio Largo. Só há trem no pequeno trecho de Jaraguá a Bom Parto, retomado na segunda-feira (4), quando foram transportados menos de 150 passageiros naquele dia. A média de passageiro neste trecho não deve passar de 200 usuários/dia
Chuva destrói estações, linhas férreas a posto de abastecimento da CBTU
A superintendência CBTU/Maceió ainda não conseguiu contabilizar o montante dos prejuízos causados por três meses de chuvas intensas e temporais das últimas semanas na malha ferroviária e equipamentos da região metropolitana. Porém, os técnicos afirmam que até agora nunca viram tanta destruição nas estações, oficinas e nos postos de abastecimentos das locomotivas. Segundo eles, é a maior destruição da história.
A gerente de operações da autarquia federal, Morgana Moraes, também confirmou que os danos foram maiores que os causados pela cheia de 2010, quando a elevação do nível do rio Mundaú destruiu inclusive a linha férrea na área da estação de Gustavo Paiva, no município de Rio Largo.
Este ano foram registrados pontos de alagamentos em Bebedouro, Rio Novo, ABC e Rio Largo. A malha férrea terá de ser reconstruída em vários trechos. A estação de trem Gustavo Paiva foi a mais danificada. Ela serve como ponto de abastecimento e ficou inativa. Para não deixar a população pobre sem transporte, o trecho do VLT de Maceió até Bom Parto foi restabelecido.
O preço da passagem do VLT é o mais em conta [R$2,50] e é subsidiado por ser considerado como de benefício social. Por enquanto só a CBTU de Belo Horizonte (MG) foi privatizada. A companhia está ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Alternativa
Por causa do afundamento do solo no trecho da linha entre Bebedouro e Bom Parto onde funcionava a maioria das minas de exploração de sal-gema da Braskem, a CBTU foi obrigada a operar em dois trechos: norte e sul. Essa interrupção do trajeto original entre Jaraguá/ Maceió e Lourenço de Albuquerque obrigou os passageiros a fazer baldeação em ônibus.
Por causa dos problemas geológicos causados pela indústria química, a CBTU teve que montar duas oficinas e pontos de abastecimentos nos dois trechos. Até na cheia de 2010 a manutenção de trens ocorria na Central de Maceió. Agora, a força da chuva danificou o posto de abastecimento de Gustavo Paiva e a outra oficina que funcionava em Lourenço de Albuquerque. “Dessa forma, a empresa está sem oficina e sem posto de abastecimento no trecho norte”, disse a gerente de Operações, revelando detalhes dos prejuízos agravados pelos temporais.
Passageiros
Antes dos problemas causados pela Braskem que interrompeu o tráfego direto de trens entre Maceió e Rio Largo, a companhia transportava 11 mil passageiros/dia, ou seja, 90% deles trabalhadores com baixa renda. Com tráfego em dois trechos: Bebedouro- Rio Largo e Jaraguá- Bom Parto, o número de passageiros caiu drasticamente para dois mil passageiros/dia.
Após os estragos causados pelas chuvas, a CBTU passou a operar só num trecho [Jaguara até a estação Bom Parto], cerca de 200 passageiros. O preço dos transportes permanece em R$ 2,50, A companhia está orçando gastos com reconstrução de vias permanentes e de estações de trens. Atualmente as equipes trabalham para restabelecer o VLT entre Bebedouro e o município de Satuba e prometeu entregar tudo pronto em oito a quinze dias.
Os passageiros de Satuba gastam R$ 12 [ida e volta] até Maceió de ônibus e vans. A conclusão das obras depende de condições climáticas favoráveis. “Com relação ao restabelecimento dos trens de passageiros de Bebedouro a Rio Largo, só será possível depois que for recuperado a via asfáltica na subida da cachoeira de Rio Largo”, revelou Morgana Moraes, ao explicar que os trilhos suportaram os temporais e estão intactos. Abaixo das linhas têm crateras que destruíram a pista asfáltica.
No trecho original entre Bebedouro e Bom Parto não há como pensar no restabelecimento do tráfego de trens, por causa de possíveis desmoronamentos de minas de sal-gema que ficam a mais de mil metros de profundidade. Há uma recomendação da Comissão Nacional, Estadual e Municipal da Defesa Civil que proíbe o tráfego de trens na região que é monitorada 24 horas por dia.
Por Arnaldo Ferreira
Informações: Gazeta Web