Foi na Avenida Norte, um dos principais corredores de tráfego da Zona Norte do Recife, que encontramos o gari Elias José de Lima, 52 anos, trafegando na via em uma bicicleta. Uma disputa desigual entre os carros. Era perto do meio-dia, mas o dia dele já havia começado muito antes.
Morador do bairro da Macaxeira, também Zona Norte, ele usa a bicicleta como principal meio de transporte. E faz uma travessia inimaginável da Macaxeira ao bairro da Imbiribeira, Zona Sul, para trabalhar. O percurso de cerca de 19 quilômetros fica ainda mais difícil, se levarmos em conta as péssimas condições de acesso, sem ciclovia e ainda a falta de consciência dos motoristas.
"Ninguém respeita o ciclista. Já caí várias vezes, mas levanto e continuo. Tenho que chegar ao meu destino", revelou. Elias é o personagem que vai ilustrar um universo muito comum, mas ainda invisível para a maioria: os sem-ônibus. A estimativa do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano é que pelo menos um terço da população da Região Metropolitana, cerca de 1,2 milhão de pessoas, se desloca a pé ou de bicicleta, por absoluta falta de condições de pagar pelo transporte público.
O Plano Diretor de Transporte Urbano da RMR (PDTU) orienta não apenas a inclusão dessas pessoas no sistema de transporte, mas sobretudo aponta melhorias para dar condições e até estimular o transporte não motorizado, seja a pé ou de bicicleta, com criação de ciclovias e melhorias das calçadas para facilitar os deslocamentos. "É evidente que o transporte não motorizado não pode ser usado para todas as ocasiões, mas precisa ser estimulado. Isso significa menos veículos nas vias e menos poluição", apontou Oswaldo Lima Neto, especialista em planejamento urbano de transporte público.
De acordo com o PDTU, é necessária a criação de rotas compostas por ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas, interligando os principais locais de geração e atração de viagens. Para exemplificar, as ciclovias são isoladas das vias principais. Na ciclovia, usa-se um pedaço da calçada do pedestre. Já a ciclofaixa é, como o próprio nome diz, uma faixa para bicicletas na mesma rua usada por carros.
Além desse tipo de intervenção, o PDTU ressalta a sinalização, arborização, iluminação e integração das rotas de interesse do transporte cotidiano e de interesse turístico. Mas não só. Igualmente importante é a implantação de sistema de informações com sinalização, guias, internet e todas as formas de mídia. "Não adianta apenas criar ciclovias, é preciso também criar a cultura cicloviária tanto para o ciclista quanto para o motorista", ressaltou Oswaldo Lima Neto. Com um total de 2.580 quilômetros de vias, o Recife tem atualmente 13,5 quilômetros de ciclovias, o que representa apenas 0,52% das vias da cidade.
Fonte: Diário de Pernambuco
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