Uma das bandeiras da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), as faixas exclusivas de ônibus parecem ter caído nas graças dos paulistanos. Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, 92% dos entrevistados aprovam os locais reservados nas vias para circulação de veículos do transporte público municipal.
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Foto: Nelson Coelho/ Diário SP |
A amostra foi feita na capital paulista entre os dias 16 e 19 deste mês, com 602 pessoas, a pedido do Setcesp (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de SP e Região).
Do total de pessoas que responderam o levantamento, apenas 7% são contra às faixas.
Segundo a Prefeitura, São Paulo possui 506,2 quilômetros de espaços exclusivos para os coletivos. O DIÁRIO esteve em dois deles, em diferentes regiões, e ouviu impressões de usuários de ônibus, que elogiaram o projeto, mas reclamaram do desrespeito de motoristas de carro, que insistem em invadir as faixas para furar o congestionamento, atrasando quem está no transporte público.
Na Radial Leste, na Zona Leste, o vendedor Pedro Henrique Sanches, de 20 anos, contou como a via alterou sua rotina. “Moro na Casa Verde (Zona Norte) e demorava de meia-hora a 40 minutos para chegar na Barra Funda (Oeste). Hoje, levo só dez minutos”, elogiou.
A comerciante Adelaide Pires, 45, também aprova as faixas. “É justo, mas ainda há carros estacionados e isso atrapalha o ônibus”, disse.
Na Freguesia do Ó, na Zona Norte, o feirante João dos Santos Gomes, 61, considera a medida necessária. “De manhã, aqui na Avenida Nossa Senhora do Ó (que dá acesso à Marginal Tietê), carros travam e os ônibus passam velozes”, disse.
Para o diretor-executivo de Opinião Pública do Ibope, Helio Gastaldi, o resultado não é surpresa. “A pesquisa mostra aceitação maior do transporte coletivo.”
O engenheiro Horácio Figueira, especialista em transportes, considerou o resultado “arrebatador”. “Só confirma que quando se tem visão de coletivo, as coisas funcionam. As faixas foram incorporadas à cidade.” Para ele, as vias segregadas trazem fluxo mais harmônico, pois acabam com “entrelaçamentos”. “Somente um prefeito irresponsável desativaria as faixas.”
CICLOVIAS, NO ENTANTO, AINDA ESTÃO LONGE DE SER CONSENSO/ Perguntados sobre a viabilidade das ciclovias e ciclofaixas espalhadas por São Paulo, outra marca da gestão Fernando Haddad (PT), o resultado da pesquisa Ibope mostra divisão dos paulistanos. Segundo o estudo, 51% dos entrevistados aprovam os espaços reservados para as bicicletas enquanto 44% rejeitam o projeto.
Quando foi implantado, a iniciativa recebeu críticas de motoristas, moradores e comerciantes. Ciclistas, que enfim tiveram seus pedidos atendidos, foram só elogios. Haddad acabou acusado de apenas “jogar tinta vermelha no solo” e ter colocado as ciclovias em ruas onde não fluxo de bikes.
A pesquisa perguntou também sobre a importância das ciclovias na capital. Do total de paulistanos entrevistados, 47% acham que os espaços para bikes não afetaram o deslocamento pela cidade.
“O que precisa é educação do berço. As bicicletas podem muito bem conviver com carros, pedestres e ônibus. Basta respeito”, afirmou o comerciante Valdir Teixeira, 71. Ele possui uma loja bem em frente a uma faixa exclusiva de ônibus na Freguesia.
Para a servente Helenice Maia, 53, as bikes já fazem parte da cidade. “É questão de se adaptar”, disse ela. Já o empresário Aurélio Mello, 45, critica o projeto. “É só um monte de tinta vermelha. Algumas são bacanas, como a da (Avenida) Paulista, mas são poucas que provam sua utilidade.”
A cidade tem 414,5 km de ciclovias e ciclofaixas, dos quais 317,9 km foram implantados na atual gestão.
ANÁLISE/ Flamínio Fichmann, especialista em mobilidade urbana
Acredito que a pesquisa não revela exatamente a opinião da maior parte da população. A aprovação de 92% das faixas exclusivas de ônibus me parece muito alta. As pessoas aprovam em maioria, mas não tanto. A verdade é que ninguém larga o carro para andar de ônibus em faixa exclusiva. O aumento das pessoas circulando em coletivos se deve ao Bilhete Único, então não é uma novidade. Já os números do rodízio parecem traduzir o sentimento do paulistano em relação à restrição de veículos na cidade. Considero o resultado em relação a esse indicativo razoável, porque toda ação que restringe encontra reação, oferece resistência. Mas quem é contra a ampliação pertence, provavelmente, à classe média, que é resistente em deixar os carros em casa e andar de transporte público na capital.
MUDANÇAS NO RODÍZIO SÃO RECHAÇADAS
A ampliação do rodízio municipal de veículos foi reprovada pela maioria das pessoas consultadas na pesquisa Ibope/Setcesp.
No ano passado, após muita polêmica, o prefeito Fernando Haddad (PT ) abandonou a ideia de estender a restrição para áreas periféricas e ampliar os horários depois de até a sinalização de solo ter ficado pronta.
Dos entrevistados, 61% são contra a extensão da restrição de carros em determinado dia da semana – dependendo do número final da placa – para além do chamado Centro Expandido. Já 36% declararam que são a favor da proibição em áreas maiores na cidade.
Além disso, 57% de quem participou do estudo disseram ser contrários à ampliação do horário da medida e 40% opinaram favoravelmente. A rejeição aumenta quando foi colocada a opção de o rodízio vigorar dois dias na semana – hoje a restrição é de um dia (veja na arte ao lado). “Acho um absurdo essa ideia. Já temos o direito de ir e vir de carro caçado em determinado período da semana. Essa ampliação iria prejudicar a periferia, que usa o carro para se locomover, muitas vezes, dentro do próprio bairro”, disse o arquiteto Hélio da Silva Vieira, de 54 anos.
O tecnólogo Aparício de Lima Souza, 43, considera que a medida poderia aumentar ainda mais o número de carros na cidade. “Quem pode, vai tentar driblar usando carro com outra placa, tendo mais de dois veículos na garagem.”
A pesquisa apontou ainda que a redução das velocidades é aceita por 51% dos entrevistados. Outros 46% rejeitam a medida, outra grande polêmica do governo Fernando Haddad (PT). “Até diminuíram os acidentes, isso é inegável como melhoria, mas é impraticável andar a 50 km/h nas marginais, por exemplo. É preciso rever excessos”, disse o comerciante José Santos, 49.
Questionada sobre os resultados favoráveis e críticos à administração, a Prefeitura disse não comentar pesquisas de opinião. O Ibope também perguntou a intenção de votos do paulistano para a Prefeitura.