Atrasos, superlotação nos horários de pico e, consequentemente, pouco conforto a bordo. Quem depende de transporte público em grandes cidades está sujeito a todo tipo de dificuldades. Para avaliar a qualidade do serviço do qual a população depende, a reportagem do ABC Domingo elaborou um raio X da situação nas três maiores cidades da região: Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo. Nesses três municípios, são transportados 58,2 milhões de passageiros todos os anos. Os responsáveis pelos setores nas três cidades admitem que há problemas, mas alegam que são pontuais.
A serviços gerais Maria Odete Dias da Silva, 46, sente na pele todas as dificuldades em depender de ônibus para se deslocar diariamente entre sua casa, no bairro São Jorge, em Novo Hamburgo, e o trabalho, no Centro. Para cumprir este trajeto, todos os dias demora uma hora para ir e uma hora para voltar. “Deveria haver mais linhas nos horários de pico, mas no meio da tarde também há lotação. Já fiquei na parada sem conseguir embarcar em um micro-ônibus porque estava entupido de tanta gente”, observa a usuária, que sugere a implantação de veículos com ar-condicionado. Na opinião da comerciária hamburguense Viviane Vogt, 25 anos, o principal problema diz respeito à frequência dos horários. “Aos finais de semana é ainda pior: em algumas linhas, só há ônibus de hora em hora e, muitas vezes, registrando atrasos”, garante.
O secretário municipal de Segurança e Mobilidade Urbana (Sesmur) de Novo Hamburgo, Danilo Oliveira, lembra que, quando são feitas reclamações relacionadas a atrasos ou lotação, as empresas são ouvidas a respeito. “Sempre buscamos uma solução, nunca deixamos o usuário sem resposta”, explica. Quanto à frequência dos horários, para exemplificar ele cita o caso da zona rural Lomba Grande. “Nesta localidade, há uma extensão muito grande de quilômetros e há pouquíssimos passageiros. Fica inviável as empresas colocarem ônibus para transportar dois ou três passageiros”, defende ele. Oliveira considera o serviço de boa qualidade, mas reconhece que sempre é possível melhorar.
Nova licitação aguarda parecer do TCE
Uma frota renovada e a integração das tarifas estão entre os benefícios que poderão ser implantados com o novo sistema de transporte público de Novo Hamburgo, adianta o secretário municipal de Segurança e Mobilidade Urbana, Danilo Oliveira. As mudanças, porém, só deverão ocorrer no início do próximo ano.
O processo de licitação foi suspenso pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que está apontando ajustes a serem realizados. “No decorrer do ano, queremos resolver todas as questões técnicas relativas ao edital e, no início do ano que vem, estar com o sistema licitado”, explica.
Hoje, vigora um contrato de autorização de exploração do transporte coletivo de passageiros, com validade até o final do ano. Além disso, quatro micro-ônibus fazem o transporte seletivo, pelo mesmo preço de uma linha normal: R$ 2,50. “Os benefícios do novos sistema seriam a passagem integrada, permitindo que o usuário não pague pelo segundo ônibus, e o sistema troncal, abastecido por linhas que vêm dos bairros. Os ônibus serão novos e terão ar-condicionado.’’
Problemas em Canoas e São Leopoldo
Cidades diferentes, problemas idênticos. Em São Leopoldo, moradores reivindicam melhorias no transporte público. Para a secretária Annemarie Voss Cézar, 57 anos, deveriam ser reavaliadas as necessidades da população para modificar as linhas e itinerários. Já Susana Souza, 26, reclama que, depois das 17 horas, é uma tortura pegar um ônibus para as Vilas Maria e Paim. ‘‘Eles costumam atrasar muito, às vezes até 40 minutos, e vêm superlotados. Poderiam colocar mais ônibus no horário das 17h30 às 19h30’’, relata.
Em Canoas, a vendedora autônoma Iara Ferreira Soares, 69, circula de ônibus todos os dias por diversos bairros da cidade em busca de clientes e critica os poucos horários disponíveis à tarde. “O pessoal se queixa bastante dos ônibus lotados e dos poucos horários”, revela.
Prefeituras admitem lotação e atrasos
O diretor de Mobilidade Urbana de São Leopoldo, Jiovani Veiga Pinto, reconhece que há ônibus lotados, mas apenas em alguns horários. Segundo ele, estudos são realizados constantemente para melhoria do sistema. ‘‘O Plano de Mobilidade avalia a ampliação das linhas e, provavelmente ainda em 2012, contaremos com a integração do sistema, possibilitando o segundo embarque gratuito’’, adianta.
O ponto positivo, segundo ele, é que a frota é nova. ‘‘O ônibus mais velho em São Leopoldo tem quatro anos de uso e temos 80 veículos adaptados com elevador para portadores de necessidades especiais’’. Em agosto passado, após licitação, o consórcio Cooleo – formado pelas quatro empresas que atuavam no município, Sinoscap, Feitoria, Leopoldense e Sete de Setembro – assumiu o serviço.
O secretário de Transportes e Mobilidade de Canoas, Luiz Carlos Bertotto, também reconhece que há pontos a melhorar, entre eles a pontualidade. ‘‘Temos um sistema razoável, com alguns atrasos devido aos engarrafamentos na BR-116, aumentando os tempos de viagem e gerando um efeito em cascata. Além disso, em alguns locais, como Rincão, há atendimento de hora em hora devido à pouca demanda’’, avalia. Conforme o secretário, uma reformulação está sendo feita para ajustar esta questão em março, mês em que a integração do sistema será ampliada também para o trensurb.
Promessas de novas linhas e mais horários
Maior disponibilidade de horários e novos ônibus já para o período do início do ano letivo nas linhas de maior movimento. As mudanças ajudarão a resolver os problemas em algumas linhas em São Leopoldo, avalia um dos diretores do consórcio Cooleo, Éder Scherer Teles. ‘‘Nos horários de pico, é normal que a movimentação seja acima da média, mas excessos devem ser apontados pela população’’, explica.
Em Canoas, revela o engenheiro de tráfego e gerente de Planejamento da Sogal, Flávio Caldasso, será implantado em breve um sistema de mapeamento e rastreamento dos ônibus que contribuirá para reduzir atrasos e tornar mais eficientes os itinerários. ‘‘Temos linhas em bairros populosos que concentram mais passageiros e em alguns horários é normal que haja mais movimento, mas a frota de 109 veículos é suficiente’’, explica. Além disso, há 30 micro-ônibus no sistema seletivo (tarifa de R$ 2,95).
Em Novo Hamburgo, o encarregado de tráfego da Futura, Ademir Silva, diz que é feito um controle para evitar atrasos e lotação de veículos. A reportagem procurou a empresa Hamburguesa, mas não obteve retorno.
Por Adair Santos