Se por um lado a ampliação da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) trouxe benefícios aos motoristas do Distrito Federal, a obra em andamento gera transtornos à vida dos pedestres. Os principais problemas apontados por eles são: ausência de calçadas, longas distâncias entre as passarelas e falta de paradas de ônibus. Para piorar a situação, os abrigos para os usuários de transporte público construídos no canteiro central da rodovia não têm utilidade. O edital de licitação para a compra de 300 novos ônibus com porta especial à esquerda passa por adaptações da Secretaria de Transporte do DF, assim como determinou o Tribunal de Contas do DF ao verificar irregularidades no processo.
O Correio esteve na EPTG ontem e verificou as diversas dificuldades enfrentadas pelos pedestres. A distância entre algumas passarelas, por exemplo, chega a 1,5 quilômetro, fazendo com que muitas pessoas se arrisquem ao atravessar pela via expressa — a velocidade máxima é de 80 km/h. A massoterapeuta Viviane Alves de Araújo, 23 anos, se arriscou na travessia. Em vez de caminhar por 20 minutos até a passagem suspensa, ela preferiu correr riscos entre os carros. “Apesar de ser perigoso, é mais fácil. Demorei cinco minutos por aqui. Se fizesse o outro caminho, iria levar muito mais”, justificou.
O técnico em telecomunicações Aristóteles Gomes Rocha, 29 anos, reclamou das dificuldades. “Muitas vezes, tenho que andar durante 30 minutos para chegar até a parada mais próxima. Como retiraram algumas, acabo dando uma volta grande. Hoje mesmo, eu acabei perdendo meu ônibus. Além deles passarem em horários malucos, essa distância atrapalha. Acho que deveria existir mais pontos por aqui”, sugeriu.
O autônomo Francisco José Araújo Lima, 35 anos, trabalha há três anos no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), onde vende guloseimas próximo a uma parada de ônibus. Ele afirma ouvir diariamente os pedestres reclamando da falta de infraestrutura da EPTG, além de ver muitas pessoas passando pelo acostamento da pista. “Como não há calçadas, elas são obrigadas a passar no meio da rua. Quando não é isso, têm que passar pelo barro e se sujar”, contou. “Em um dia desses, uma mulher quase foi atropelada aqui por causa disso”.
Sem previsão
A Secretaria de Transportes do DF informou, por meio da assessoria de imprensa, que o número de paradas de ônibus ao longo da EPTG é superior ao existente antes do início das obras, sendo suficiente para atender ao usuário. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) acrescentou que ao longo da via foram implantados 60 novos pontos. Quanto às passarelas, foi informado que a implantação se deu nos pontos de maior demanda, tendo a distância média entre elas 400 metros.
O superintendente de Obras do DER, Samuel Dias Júnior, reforçou que houve uma ampliação na oferta de pontos de parada de transporte público, sendo 15 ao longo do canteiro central e um em cada lado das vias marginais, em conformidade com as passarelas existentes. “Retiramos paradas no trecho de obras onde não tinha jeito. E, geralmente, onde precisou ser retirado foi implantada uma nova. Mas, por exemplo, em alguns pontos do SIA, não houve necessidade de remoção”, completou. “Durante as obras, foram construídos abrigos provisórios, mas eles foram retirados após a conclusão das passarelas”, disse.
Ainda segundo o superintendente, não há previsão de construção de novos abrigos ao longo da EPTG. Caso a população observe a necessidade de implantação, ele sugere que os interessados recorram ao Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). O DER admitiu a ausência de calçadas em alguns pontos da EPTG, mas esclareceu que há um processo de licitação em curso para a construção dessas passagens.
Em construção
A ampliação da EPTG teve início em abril de 2009, a partir do investimento de R$ 244 milhões. A primeira etapa da obra foi concluída no fim de 2010 e contou com implantação de passarelas, paradas de ônibus e instalação de faixas exclusivas para o transporte público. A segunda etapa da construção, que contará com a instalação de uma ciclovia, ainda não tem prazo para começar. Para que isso seja possível, o DER informou que precisará fazer uma releitura do projeto.
Fonte:
Correio Braziliense