Em contraste com os 868 quilômetros de ruas e avenidas que são monitoradas pela Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP), a capital paulista dispõe atualmente de apenas 37,5 quilômetros de vias destinadas ao trânsito de bicicletas, de acordo com a própria CET-SP, que é responsável pela implantação das ciclovias.
Os corredores exclusivos estão distribuídos por seis locais da cidade, sendo que os mais extensos se localizam na Radial Leste e às margens do Rio Pinheiros, com respectivamente 12 e 14 quilômetros. Em outras vias, os percursos são menores: na Avenida Brigadeiro Faria Lima (com 1,3 km), na Avenida Sumaré (1,4 km), na Estrada da Colônia (1,8 km) e na adutora Rio Claro (7 km).
Há ainda, dentro da extensão total de ciclovias, a Ciclofaixa de Lazer, que faz ligação entre os parques do Ibirapuera, das Bicicletas e do Povo. Atualmente com 10 quilômetros de extensão, a via deve ser ampliada pela Secretaria Municipal de Transportes, para alcançar o Parque Villa-Lobos.
"As ciclovias cresceram muito nos últimos anos, mas ainda falta muito para um ideal. A maioria dos ciclistas as usa para ir trabalhar, mas elas ainda são vistas como um espaço de lazer. Deveriam ser vistas como meio de transporte", defendeu o consultor de mercado Álvaro Perazzoli.
Além de prestar consultoria para produtores e consumidores de bicicletas, Perazzoli é representante de vendas das marcas Kaulf, que fabrica peças, e Cars & Bikes Brunete, uma importadora de bicicletas especializadas. Além disso, ele é cicloativista e colabora com a comunicação de movimentos em prol do esporte sobre duas rodas, como a Bicicletada.
"Toda última sexta-feira do mês tem muita gente em todas cidades do Brasil que pedalam como forma de protesto. Depois da Bicicletada, a causa começou a ser discutida", contou Perazzoli. O movimento, com origem nos Estados Unidos da década de 1990, reúne mensalmente dezenas de ciclistas na Avenida Paulista. Segundo o colaborador, a Bicicletada teve grande influência na criação de bicicletários em algumas estações do Metrô de São Paulo.
Metropolitano
Em janeiro de 2009, sete pontos destinados aos ciclistas foram inaugurados nas unidades da Liberdade, Armênia e Santana (Linha 1-Azul), Vila Madalena (Linha 2-Verde), Brás, Palmeiras-Barra Funda e Santa Cecília (Linha 3-Vermelha) do Metrô. Para cada local, há dez bicicletas disponíveis para aluguel e dez vagas de estacionamento.
Realizada a cada década pelo Metrô, com apoio da CET-SP e da SPTrans, a pesquisa Origem-Destino revelou em 2007 que, naquele ano, 156 mil viagens de bicicleta eram feitas diariamente em São Paulo. O número representa um aumento de 183% sobre a pesquisa anterior, de 1997, enquanto o total de viagens realizadas na capital, considerando todos os meios de transporte, tivera aumento de apenas 20%.
Copa do Mundo
A exemplo do que aconteceu em outros países que sediaram o evento, a Copa do Mundo trará para o Brasil a conscientização das cidades sobre a importância do uso da bicicleta, levando os poderes públicos a investir em vias especiais, em formas de integração entre a bicicleta e outros meios de transporte e em campanhas que valorizem o veículo.
Essa é a opinião de um dos vice-presidentes do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), Eduardo Musa, que é responsável pelo Departamento de Duas Rodas (Bicicletas) da entidade.
"Com o problema de mobilidade urbana que nós temos, está sendo colocada em todas as cidades-sedes uma preocupação muito grande, em gerar mobilidade para se chegar nos estádios de bicicleta ou integrando a bicicleta com outros meios de transporte", afirmou Musa.
De acordo com ele, a bicicleta passará efetivamente de um meio de transporte tipicamente rural para uma solução da mobilidade urbana. O veículo, continuou Musa, apresenta uma característica que, se explorada, pode ser muito útil para o trânsito em grandes centros urbanos: o last mile (última milha).
O termo last mile é uma solução em que o motorista de carro estaciona seu automóvel e percorre o fim do caminho utilizando uma bicicleta - por exemplo, em um estádio de futebol, cujos arredores ficam congestionados em dia de jogo. "Isso é comum na Europa. Você cria bolsões externos para estacionar e tira o congestionamento de carros do entorno do evento", conta Musa.
O Brasil é o terceiro maior polo produtor de bicicletas do mundo, atrás da Índia e da China, como reforçou o vice-presidente do Simefre. "Talvez a Copa do Mundo seja o que a gente precise para que os governos municipais, estaduais e até federais comecem a colocar dinheiro, orientação e educação na infraestrutura cicloviária do País."
Fonte:
DCI