Às vésperas de sediar uma Paralimpíada, a partir da próxima quarta-feira, o Rio ainda está longe de merecer uma medalha de ouro em acessibilidade nos meios de transporte coletivo. Apesar dos avanços no VLT, no BRT e no metrô, passageiros com necessidades especiais ainda reclamam da dificuldade de deslocamento pela cidade, sobretudo, em ônibus convencionais e trem.
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Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo |
O EXTRA acompanhou o cadeirante Romário de Souza Pinto, de 65 anos, num teste pela cidade durante dois dias. O aposentado, morador em Duque de Caxias, reprovou os ônibus comuns e o transporte ferroviário. Na quinta-feira, em sete tentativas feitas em várias linhas que circulam entre Madureira e Cascadura, ele só conseguiu completar duas viagens de coletivo.
Dois ônibus (um deles alimentador do BRT) nem sequer tinham o elevador para cadeirante. Nos outros três, o equipamento apresentou defeito. Num deles, emperrou, dificultando o fechamento da porta e obrigando todos os passageiros a descerem para esperar outro veículo.
— Achei que seria mais fácil. A cidade está despreparada para lidar com o cadeirante — reclamou.
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Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo |
Na viagem de trem, o desafio já começa no acesso às estações. Em Marchal Hermes, é necessário vencer duas escadarias, com cerca de 40 degraus cada, que levam até as catracas e a plataforma. Em Realengo, o cadeirante precisou ser carregado nos braços por um agente da SuperVia e dois passageiros.
Para Teresa Amaral, superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), o Rio perdeu a oportunidade dada pelos Jogos de avançar em acessibilidade:
— Os meios de transportes mais usados pela população, que são ônibus e trem, deixam muito a desejar.
Paratletas aprovam VLT
O VLT causou boa impressão nos atletas paralímpicos brasileiros, que, ao desembarcar no Rio, quarta-feira, passearam de bonde. O cadeirante Jovane Guissone, ouro em esgrima, aprovou a acessibilidade. Avaliação também positiva foi feita por Romário de Souza Pinto em relação ao metrô:
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Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo |
—Além de dotadas de rampas e elevadores, as estações têm piso tátil e os funcionários são solícitos.
No BRT, a única queixa foi do fato de o motorista não ter parado o ônibus no Terminal Fundão junto à plataforma, deixando um vão que provocava riscos de queda. O consórcio BRT lamentou a atitude do motorista e informou que não condiz com o padrão de atendimento aos cadeirantes.
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Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo |
Sobre os ônibus comuns, a Secretaria municipal de Transportes informou que 91% dos 8.610 têm elevadores, incluindo os 439 BRTs. Informou ainda que o equipamento é um dos itens checados na vistoria anual e em fiscalizações de rua. O mau funcionamento pode render multa de R$ 1.560. O Rio Ônibus disse que os consórcios trabalham para melhorar o atendimento a usuários com mobilidade reduzida.
Respostas:
SMTR
“A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informa que, dos 8.610 ônibus urbanos, 91% possuem elevadores para cadeirantes, incluindo toda a frota do BRT, que, atualmente, é de 439 veículos, segundo dados de junho de 2016. É importante ressaltar que existem dois níveis de acessibilidade: o que se refere à parte interna dos veículos — que já é cumprido em 100% da frota — e à parte externa (elevadores), cujo percentual de atendimento é de 90%, conforme já mencionado. É importante ressaltar ainda que, a partir do ano que vem, nenhum ônibus sem acessibilidade será licenciado pelo município.
Para se ter ideia do avanço dos últimos anos no que se refere a garantir acessibilidade ao transporte público a todos, em 2012, a frota de ônibus acessíveis era de 5.505 veículos, do total de 8.678, o que representava 63%. A meta da Prefeitura do Rio é ter 100% da frota com acessibilidade também até 2017, com o avanço do processo de renovação da frota circulante e o início das operações do BRT Transbrasil.”
Rio Ônibus
“Os consórcios Intersul, Internorte, Santa Cruz e Transcarioca trabalham de forma contínua para melhorar a qualidade do atendimento aos usuários com mobilidade reduzida. Os ônibus que compõem a frota do Rio de Janeiro atendem as regras de acessibilidade no transporte de passageiros, de acordo com a determinação da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Todos os veículos são considerados adaptados, com a instalação de dispositivos que facilitam o deslocamento, como corrimãos, colunas, alças e interruptores para solicitação de paradas na altura apropriada e sinalização adequada, além de mecanismos táteis. Os bancos preferenciais também foram reposicionados para facilitar o acesso, sendo identificados com cores diferentes.
De acordo com o último levantamento, 91% da frota está equipada com elevadores hidráulicos, a fim de facilitar o embarque e o desembarque dos usuários. A adaptação de toda a frota acontecerá gradativamente com o processo de renovação, a partir da compra de veículos novos, uma vez que os coletivos fabricados antes de 2008 não possuem condições técnicas de receber os equipamentos. Para se ter noção dos investimentos feitos no sistema de transporte, até 1988, só havia sete ônibus adaptados com elevadores.
Os consórcios mantêm programas de capacitação contínuos, inclusive voltados para motoristas novos. A entidade, no entanto, reconhece falhas pontuais no sistema, que são reparadas logo após serem informadas. Para facilitar o uso, são fixados adesivos nos aparelhos para orientar os funcionários, que recebem também a recomendação de realizar testes antes do início do trabalho, a fim de identificar quaisquer problemas.”
BRT
“O BRT Rio lamenta o fato ocorrido com o passageiro, que não condiz com o padrão de atendimento exigido para o embarque de cadeirantes. Além de orientar nossos profissionais para que se coloquem à disposição das pessoas com deficiência, estamos reforçando a necessidade de atenção dos motoristas na abordagem da plataforma. Esse aspecto tem merecido todo o cuidado nos treinamentos ministrados aos novos profissionais.
O BRT Rio possui estações e veículos acessíveis. Enquanto as estações dispõem de rampas de acesso, piso tátil, catracas para pessoas com deficiência e possibilitam embarque em nível, os ônibus têm dispositivos para facilitar o embarque de cadeirantes (rampa escamoteável) e espaço para abriga-los no seu interior, além de piso antiderrapante, sinalização sonora e visual.
O BRT Rio também conta com agentes de plataforma, além de outros profissionais capacitados, que têm entre suas atribuições a ajuda a cadeirantes, cegos e outras pessoas com deficiência. Esses agentes devem oferecer ajuda, independentemente de solicitação. Na prática, contudo, há pessoas que declinam da ajuda ou que aceitam o auxílio de outros passageiros.
Desde o final do ano passado, temos feito treinamentos de acessibilidade, ministrados pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD): cerca de 95 profissionais do BRT Rio passaram por esses treinamentos, e atuarão prioritariamente nos terminais Paralímpico, Centro Olímpico e Jardim Oceânico, na estação Salvador Allende, além de outros terminais e estações de maior movimento.
Todavia, reconhecemos que ainda há muito por se fazer, inclusive nos acessos antes de se chegar às estações e terminais. Os Jogos Paralímpicos são uma excelente oportunidade para acertar pontos que não estão em conformidade.”
SuperVia
“A SuperVia trabalha na adaptação das suas estações para tornar acessível a circulação de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. A concessionária tem como objetivo eliminar obstáculos e criar comodidades para proporcionar cada vez mais autonomia nos deslocamentos de seus passageiros. Desde 2011, ano que a atual gestão assumiu a administração da SuperVia, está em andamento o programa de reforma para inclusão de itens de acessibilidade em todas as estações. Até o momento, 22 estações passaram por intervenções e receberam componentes como elevadores, escadas rolantes, piso tátil, rampas de acesso, e bilheterias e banheiros adaptados. O investimento previsto é de R$ 376 milhões.
Outros R$ 250 milhões foram investidos ao longo do último ano na reforma das seis estações estratégicas para atendimento do público dos Jogos Rio 2016 (São Cristóvão, Engenho de Dentro, Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos e Ricardo de Albuquerque).
O atendimento aos deficientes físicos também inclui a utilização de rampas móveis nas estações que podem ser apoiadas nos trens para facilitar o embarque e desembarque; espaços destinados aos cadeirantes e assentos preferenciais em todos os trens; e funcionários de estações devidamente treinados e capacitados para prestar auxílio na condução de pessoas em cadeiras de rodas e com deficiência visual mediante pedido de apoio por parte do passageiro. A SuperVia orienta que todos os passageiros que precisam de apoio peçam ajuda ao agente da estação. Assim, o funcionário poderá auxiliar o passageiro de acordo com suas necessidades, sem que ele tenha suas capacidades subestimadas. No caso do apoio a cadeirantes, o agente irá se informar sobre a estação de desembarque do passageiro para providenciar o posicionamento da rampa e orientar o maquinista quanto a ampliação do tempo de fechamento das portas naquela estação.
Todos os profissionais que trabalham no contato direto com os passageiros passam por treinamento e reciclagens periódicas que envolvem relação com o cliente em diversas situações que possam ocorrer no sistema ferroviário. A capacitação inclui temas como Código de Ética, Conduta e Postura, além de Controle Emocional e Administração de Conflitos. Para a Paralimpíada esse treinamento foi reforçado, incluindo palestras ministradas por deficientes físicos.”
Com relação à fiscalização, a SMTR informa que o elevador é um dos itens checados na vistoria anual e em fiscalizações realizadas frequentemente nas ruas e nas garagens das empresas de ônibus. O mau funcionamento ou inoperância do equipamento é infração gravíssima ao Código Disciplinar dos Ônibus, publicado em 2012. Caso um coletivo que esteja com o elevador inoperante seja flagrado por fiscais da SMTR é imediatamente lacrado e o consórcio responsável recebe multa no valor de R$ 1.560.
A Secretaria faz um apelo para que qualquer irregularidade seja comunicada ao 1746, canal de comunicação da Prefeitura com o cidadão. Todas as denúncias são rigorosamente checadas e usadas para direcionar ações de fiscalização.