A presidente Dilma Rousseff participou da inauguração do primeiro aeromóvel do Brasil no sábado em Porto Alegre. Ela defendeu o veículo como alternativa de transporte público e condenou o uso de veículos pessoais diante de alternativas coletivas. "Sem o transporte público eficiente, nós não teremos algo que não seja a crise nas cidades urbanas", afirmou durante a cerimônia, que contou com a presença de outras autoridades e do criador do aeromóvel.
Dilma falou sobre as mobilizações que tomaram as ruas do País em junho e mencionou o sistema inaugurado hoje como referência. A presidente citou o atraso na inauguração do veículo de tecnologia brasileira - que estreia 31 anos depois de o projeto original ter sido abandonado - e mencionou o período em que viveu na capital do Rio Grande do Sul.
"Para mim, tem um significado especial participar dessa cerimônia porque, como alguém que morou por mais de 30 anos em Porto Alegre, não podia deixar de perceber que o aeromóvel compõe o horizonte da minha cidade e que ele sempre me intrigou, sempre acendeu as esperanças de ver um empreendimento não usual, revolucionário, funcionando" disse, destacando que a tecnologia é 100% nacional. Ela teceu diversos elogios ao inventor, Oskar Coester, a quem chamou de herói, "porque nossos heróis modernos mostram essa crença muito forte no País".
As obras do aeromóvel foram iniciadas em agosto de 2011, e o sistema deveria ter sido inaugurado no primeiro semestre de 2013, mas ocorreram diversos atrasos na implantação da tecnologia. Segundo os engenheiros responsáveis pelo empreendimento, isso ocorreu em virtude do caráter inovador da ideia, que demandou adaptações e passou por melhorias com ajuda de estudos realizados por universidades.
O sistema vai ligar o aeroporto Salgado Filho a estação de trem da Trensurb (responsável pelo projeto, cuja tecnologia foi comprada da Aeromovel Brasil S.A.), em um trajeto de aproximadamente 800 metros, com o custo de R$ 37,8 milhões. O projeto é encarado como um laboratório para a Trensurb, que estuda utilizá-lo em outros pontos da cidade, como na Arena do Grêmio ou na interligação com universidades. Na unidade inaugurada hoje, serão utilizados dois veículos com capacidade para transportar 150 e 300 pessoas.
O aeromóvel passa a funcionar a partir deste mês, sem a cobrança de tarifa, entre 10h e 16h, período no qual serão feitos ajustes e calibragens pela empresa detentora da tecnologia. A partir de novembro, passará a ser cobrada a tarifa de R$ 1,70 - custo do bilhete do trensurb.
O sistema foi idealizado por Oskar Coester que, inspirado em conceitos de aviação, criou o veículos sobre trilhos impulsionado por vento, como uma alternativa para o transporte público utilizando uma tecnologia simples e 100% brasileira. “O aeromóvel é um avanço nesse sentido, principalmente na questão de movimentar pessoas e não peso morto”, diz o pai da ideia, afirmando que essa não é a solução para o transporte público, mas sim mais uma alternativa, “solução não existe para nada, o que nós temos é opção”, afirma.
Em 1989, o aeromóvel passou a ser utilizado na cidade de Jacarta, na Indonésia em um trajeto de aproximadamente 3 quilômetros, mas há 30 anos já existe uma estrutura de testes montada no Centro da cidade de Porto Alegre. Segundo estudos, o custo é menos da metade de outros sistemas semelhantes, mas, por se tratar de uma tecnologia nova, sua aplicação depende de adaptação na aplicabilidade.
“O aeromóvel é um conceito novo, é a mesma diferença entre um motor gasolina e diesel, mas a maneira de fazer isso é diferente, e se revelou um sistema extremamente consistente. Qualquer conceito tem que vencer por ele mesmo”, afirma Coester.
Projeto é concluído 31 anos após idealização
Os recursos necessários para implementar o projeto (R$ 37,8 milhões) foram investidos pelo governo federal. O projeto do aeromóvel vai possibilitar maior integração para o transporte público da região metropolitana de Porto Alegre e será oferecido como um serviço gratuito aos usuários da Trensurb. A ligação direta deve beneficiar também funcionários da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) que percorrem o caminho até o aeroporto diariamente. Quanto ao número de passageiros, a Trensurb estima que aproximadamente 8 mil pessoas por dia devem fazer o caminho até o aeroporto pelo aeromóvel.
"Essa tecnologia foi duramente criticada no Rio Grande do Sul, mas verificamos que o questionamento é um grande equívoco. A vantagem energética é tremenda: vale muito a pena transformar a energia elétrica em vento para empurrar (o aeromóvel)", afirmou Ernani da Silva Fagundes, superintendente de Desenvolvimento e Expansão da Trensurb, após uma viagem de testes conferida pelo Terra.
Trinta e um anos se passaram desde que a execução do projeto foi interrompida. Questões políticas, acredita o idealizador do aeromóvel; o preço do pioneirismo, acreditam os responsáveis pela implementação atual, justificando a defasagem. "Isso que a gente chama de atraso é o custo de uma inovação", defende o gestor do projeto do aeromóvel, Sidemar Francisco da Silva. "Era impossível fazer esse veículo no prazo que estava nos contratos, ele tinha que ser adaptado dentro de novos padrões e seguir todo um conjunto de regras de segurança até então não definidas", afirma o gerente de Desenvolvimento de Engenharia da Trensurb.
O aeromóvel se movimenta com a energia gerada por um ventilador movido por um motor elétrico. Anda sobre trilhos, em rodas de aço, mas não queima combustível. Seu inventor, o gaúcho Oskar Coester, compara o funcionamento do aeromóvel ao de um barco à vela ─ só que invertido. Em ambos os casos, é o fluxo de ar que promove a impulsão; no aeromóvel, um duto localizado dentro da via elevada empurra a "vela", fixada sob o veículo por meio de uma haste. A estrutura é leve: com capacidade para carregar 150 passageiros, pesa apenas 10 toneladas, enquanto um carro popular costuma ter cerca de uma tonelada.
"É um novo conceito de transporte. (O aeromóvel) tem custo bem menor porque movimenta menos peso", disse Coester. Sua ideia foi adotada apenas em um local até hoje: em Jacarta, capital da Indonésia, onde funciona dentro de um parque ao longo de uma linha de 3,5 quilômetros. "Esse sistema funciona desde 1989 em operação comercial na Indonésia e não registrou nenhum acidente", garante. Além do aspecto ambiental, ele destaca a segurança e economia do veículo não motorizado.
Todas as peças utilizadas na constituição do aeromóvel são de fabricação nacional. Os motores propulsores foram fabricados por uma empresa do Rio de Janeiro, e o motor elétrico foi desenvolvido em Caxias do Sul (RS). O projeto foi criado "do zero": toda a tecnologia e a estrutura necessárias são feitas no Brasil. O sistema é totalmente automatizado, e assim não exige condutores a bordo. Todo o controle é feito a partir de estações remotas, localizadas em cada ponto final da rota.
Informações: Portal Terra