Foto: Amanda Miranda |
Gracenildo José dos Santos, 18 anos, e o pai, Luciano Graciano, 45, correm entre carros, ônibus, motos e outros veículos carregando caixas cheias de pipocas e copos com água, os produtos mais vendidos. O preço é R$ 0,50, e os lucro pode chegar a R$ 0,23 por unidade. Da multiplicação desses centavos, saem os aproximados R$ 25 diários que garantem o sustento da recém-formada família do jovem que aprendeu com o pai a improvisar o “ganha-pão”.
“Eu acho que eles estão aqui porque, hoje em dia, não tem emprego. Aliás, até tem emprego, o que falta é qualificação”, diz a comerciária Carla Silva, 38, no momento em que compra uma água a Marcílio Cândido, 24, que só estudou até a quarta série. Ele é conhecido como Moreno entre os motoristas e cobradores.
"Com os lucros, dá para comprar o básico para casa. Nenhum dos meus quatro filhos passa fome, mas ao mesmo tempo não podem ter o luxo de roupas novas sempre. É uma questão de organização, que todo trabalhador deve ter", diz Luciano. Já na casa de Marcílio, as contas parecem ser mais simples. "Minha esposa trabalha. Não sei quanto ela ganha, mas ajuda fazendo feira, comprando roupas para as crianças... Agora a meta é fazer a festa de aniversário de Sara (a filha, de 3 anos). Acabei também de tirar (comprar no crediário) uma televisão. Não temos crédito, mas a patroa da minha mulher sempre ajuda colocando as prestações no nome dela, como fez quando comprei um rádio".
TRANSPORTE - De acordo com o Grande Recife Consórcio de Transportes, o comércio informal é proibido dentro dos veículos e nos terminais. A fiscalização para que os vendedores não entrem nos coletivos está sob responsabilidade das operadoras, que podem ser multadas ou perder o direito de transportar passageiros se a infração for flagrada. Segundo Luciano, que já comercializou as suas mercadorias dentro dos ônibus, na verdade, o fato de os veículos estarem sempre cheios o fez desistir. "Eu acabava machucando as pessoas no empurra-empurra".
Quando o comércio é feito nas ruas, segundo o Consórcio, as prefeituras devem coibir a prática. "É melhor que eles estejam vendendo o 'passatempo da viagem', como chamam, que roubando ou cometendo outros crimes. O problema é quando não respeitam o trânsito, deixando todos em risco, ou são agressivos", diz Ivone Ferreira, 38, enquanto come uma pipoca que acabou de comprar.