"Sem estas vans, haverá mais gente ainda nos ônibus". O temor do segurança José Felix dos Reis é compartilhado por milhares de passageiros dependentes do transporte alternativo na Zona Oeste — região refém da deficiência histórica no serviço prestado pelas empresas de ônibus naquela região do Rio. Até junho, a Secretaria municipal de Transportes pretende cortar 75% das vans que circulam por lá — o equivalente a 1.500 veículos, reduzindo-os de dois mil para 500.
A medida afetará 96,5 mil passageiros, segundo dados do Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU). Já nas contas do secretário de Transportes, Alexandre Sansão, são 66,6 mil. Atualmente, das cinco mil vans registradas na prefeitura, 40% trafegam na Zona Oeste.
O problema começou a se desenhar quando a prefeitura resolveu licitar as linhas de vans. As de Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz já estão definidas. Faltam as de Bangu. O projeto previa o início da operação dos 63 trajetos legalizados em março, mas a falta de agentes de trânsito para reprimir os topiqueiros piratas adiou tudo para junho. Para evitar o caos com a redução da frota, está previsto o aumento de 20,94% no número de coletivos na região, de 1.900 para 2.298.
Entretanto, o secretário ainda não definiu quando isso acontecerá — embora tenha $de circulação 99 ônibus que trafegavam pelo novo corredor expresso da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana. Outros seis serão criados em bairros da Zona Sul e na Tijuca. Todos acompanhados pela respectiva exclusão do excesso de coletivos. Mas nenhum deles será remanejado para a Zona Oeste.
A Estrela Azul, por exemplo, já criou três linhas (423, 425 e 436) ligando o Grajaú a Botafogo e Leblon para receber os coletivos que não circularão nos corredores. Alexandre Sansão, por sua vez, diz que só tira as 1.500 vans da Zona Oeste quando puser 398 ônibus na região.
Apesar dessa garantia, topi$e passageiros estão ressabiados. Para eles, o risco de superlotação em vans, trens e ônibus é real. Considerando-se as estatísticas do PDTU, o corte de 75% das vans deixaria, proporcionalmente, 72,5 mil pessoas espremidas em filas ou a bordo — ou 49,5 mil, pelos números da secretaria.
— Vai ficar muito ruim porque os passageiros dependem da gente. Nós temos 22 carros, mas, com a licitação, restarão 14. Vai ter fila de gente aqui e os ônibus ficarão mais lotados ainda. Já ouvimos que as nossas linhas nem começam a operar neste ano — conta o topiqueiro Sandro Aurélio Ramos, que opera no trajeto Rodoviária-Rio da Prata.
— Precisamos de mais ônibus. A retirada dessas vans vai deixar os ônibus superlotados, mais do que já estão — reclama a operadora de telemarketing Letícia Oliveira da Silva.
Especialista no assunto, o engenheiro de transportes Fernando Mac Dowell, da Universidade Federal do Rio (UFRJ), também concorda com as previsões pessimistas de topiqueiros e passageiros. De acordo com o especialista, além do desemprego dos motoristas, a redução do número de vans poderá se traduzir em ônibus superlotados na Zona Oeste.
— Isso vai estourar nos ônibus. O que acontece no Rio de Janeiro é uma desorganização tão grande que me preocupa. Há famílias que dependem das vans. O prejuízo para a população será enorme, porque os ônibus não têm capacidade para absorver a demanda sem as vans. Isso é um desrespeito ao Rio. Como fazem isso com a Zona Oeste? — criticou Fernando Mac Dowell.
— A nossa lógica tem sido a de promover ligações internas, com trajetos entre os sub-bairros e os centros de bairro, para que as pessoas embarquem em terminais de ônibus e nos trens para o Centro. Os trajetos longos precisam de frotas grandes, mas basta uma quantidade menor de carros para se chegar aos centros de bairro. $É isso o que vamos fazer e vai ser suficiente — diz o secretário.