Os trabalhadores do sistema rodoviário de Salvador prometem continuar a "operação padrão" nesta sexta-feira, 16, mas sem paralisação. A operação foi inciada nesta quinta-feira, 15, na Estação da Lapa e gerou congestionamentos e transtornos para a população.
Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Manoel Machado, na “operação padrão” os motoristas irão cumprir todas as exigências feitas pela Superintendência de Trânsito e Transportes de Salvador (Transalvador) aos motoristas de ônibus. O objetivo da categoria é provar que não é possível cumprir os horários das viagens de ônibus quando se cumpre o que é exigido pela lei e se enfrenta o trânsito da cidade.
"Em alguns trechos da cidade os ônibus vão andar em filas na pista da direita, parar em todos os pontos de ônibus, esperar os passageiros idosos, grávidas e deficientes sentarem antes de arrancar com o veículo e parar quando o farol estiver amarelo", explica Machado.
Manoel Machado relata que as empresas repassam para os motoristas as multas resultantes dos atrasos nos horários de viagens determinados pela Transalvador. "Tentamos seguir a lei, mas a pressão das empresas torna isso impossível", reclamou.
De acordo com o sindicalista, cada empresa recebe em média 400 multas por mês nos valores de R$ 80 a R$ 900. Os rodoviários reclamam que as multas chegam a absorver 80% do salário do trabalhador.
O motorista da São Cristóvão, Pedro Celestino, 37, vivenciou isso. "Eu fui multado em R$ 800 por excesso de velocidade e recebo R$ 1.366, sendo que o tacógrafo (que afere a velocidade do veículo) mostrou que eu estava abaixo da velocidade máxima permitida. A gente reclama é porque são multas fantasmas, que tiram o pão da boca do meu filho", critica.
Protesto - Os trabalhadores do sistema rodoviário de Salvador protestaram na manhã de hoje a partir da região da Estação da Lapa, por onde circulam boa parte dos coletivos de Salvador e da Região Metropolitana (RMS).
Por volta das 8h40, os motoristas fecharam o acesso ao terminal e realizaram a "operação padrão", com os veículos trafegando apenas pela faixa da direita. Eles protestaram contra a falta de infraestrutura das estações, o excesso de multas e a qualidade do tratamento dispensado à categoria pelos agentes de trânsito.
Durante o protesto, os ônibus não entraram na Estação. Os passageiros precisaram se dirigir à parte externa do terminal para utilizar os ônibus metropolitanos. O motorista Jorge Luiz Gonçalves, que anda de muletas e tem dificuldades para subir as escadarias do terminal, foi surpreendido pela manifestação.
Para Gonçalves, a situação foi um transtorno, porque ele teve que aguardar o final do protesto para conseguir pegar o coletivo. Mesmo assim, aprovou a reivindicação dos rodoviários. “Os problemas existem. Aqui na Lapa não tem sanitário, as escadas estão sempre quebradas. O problema é que a população não foi avisada”, afirmou.
Outro usuário do sistema rodoviário, o vendedor Adilson Silva, também foi surpreendido, mas apoiou a manifestação. “É um incômodo, mas acho justas as reivindicações deles”, defende.
No entanto, nem todos aprovaram a mobilização dos rodoviários. A cozinheira Renilda Oliveira, de 42 anos, explicou que saiu de casa, em São Caetano, às 5h40 para tentar chegar na Lapa às 7h. Por conta do protesto, só chegou às 10h e precisou andar do Dique até a Estação. "O patrão não quer saber porque a gente chega atrasado", reclamou. Renilda enfrentou problemas também com o atraso na saída dos ônibus das empresas Praia Grande e Axé, na manhã de hoje.
O garçom Renê Oliveira, de 28 anos, perdeu uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), agendada para as 8h. O rapaz explicou que mora na região da Bonocô e que saiu de casa às 7h para conseguir chegar na Lapa. Mas o trajeto, normalmente feito em 20 minutos, durou mais de duas horas. "Deveria ter um aviso para a sociedade poder se organizar. Eles têm o direito de protestar, mas eu também tenho o meu direito de ir e vir", disse.
Patronato - O assessor de Relações Sindicais do Sindicato das Empresas de Transporte Geral de Salvador (Setps), Jorge Castro, contestou as razões do protesto elencadas pelos rodoviários e disse que "a discussão não é verdadeira". "Se eles estão fazendo isso por conta da carga horária, porque não enviaram uma pauta para discutir o assunto? Se havia um problema com as multas, era para sentar e discutir, e não prejudicar a população", argumenta.
Castro explicou que os motoristas arcam com as multas porque as empresas não podem ser responsabilizadas pelas infrações cometidas pelos condutores. "Os ônibus não cometem infração, quem comete infração é o condutor", disse. O assessor negou que as empresas pressionem os motoristas para cumprir os horários. "Como é que vamos pressionar motoristas para desrespeitarem o sinal e não pararem nos pontos por conta dos horários?", questionou.
De acordo com a Transalvador, durante o protesto, hoje o tráfego ficou congestionado nas principais vias da cidade, como ACM, Bonocô, Lucaia, Rótula do Abacaxi, Vale de Nazaré, Dique do Tororó e nas imediações da Lapa e do Iguatemi.