Você sabia que pode estar perdendo quase um dia inteiro no trânsito todos os meses, sem necessidade? De acordo com dados da Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob), os passageiros do transporte coletivo poderiam reduzir o tempo de viagem até pela metade, em algumas linhas, se fizessem uso da integração, com o bilhete único. Ele permite que o usuário pegue dois ônibus, em duas horas, para chegar ao seu destino.
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Foto: Raul Spinassé |
Apesar do benefício, apenas 12% dos passageiros usam o serviço. O número equivale a 156 mil passageiros por dia. Em novembro do ano passado, esse número era ainda menor, somente 9% dos usuários aproveitavam o benefício.
O titular da Semob, Fábio Mota, acredita que o aumento se deve às campanhas de conscientização realizadas pela prefeitura. “Estamos informando à população sobre a facilidade e os benefícios da integração. Essa é uma mudança cultural, mas aos poucos a população percebe a facilidade do serviço”, comentou.
Apesar do aumento, Salvador ainda está muito atrás de outras grandes cidades onde o serviço de integração é usado de forma mais intensa. Segundo o secretário, 49% da população, em São Paulo, usa o serviço, enquanto no Rio de Janeiro, 43% pegam mais de um coletivo para chegar ao destino diariamente.
Em dezembro de 2013, a prefeitura de Salvador ampliou o tempo de intervalo entre as viagens de 1h para 2h. Assim, basta o usuário pôr as passagens no cartão de bilhetagem e usar o serviço.
“Tenho até opção, mas pegar dois ônibus?! Não gosto, não. Prefiro esperar o meu mesmo. Demora uns 20 minutos, mas sempre saio cedo de casa”, afirmou a vendedora Débora Manaia, 29 anos, enquanto aguardava na Avenida Luís Eduardo Magalhães por um coletivo para o Shopping Paralela.
Cultura
O cartão do bilhete único era vendido por R$ 7, mas desde a última segunda-feira começou a ser distribuído de forma gratuita, na Estação Pirajá (veja quadro ao lado). Para o secretário da Semob, no entanto, o que faz o soteropolitano resistir à integração não é a falta do cartão, mas um hábito cultural.
“O passageiro prefere esperar mais tempo por um ônibus do que pegar dois e chegar mais rápido. O cidadão está em Itapuã e precisa chegar na Ribeira, por exemplo. Ele pode pegar um ônibus para a Estação da Lapa e de lá pegar um para a Ribeira, mas insiste em esperar por um que faça o trajeto direto e que, na maioria das vezes, tem um tempo de espera muito maior”, exemplificou.
Para a assessora técnica do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps), Ângela Levita, essa mudança é mesmo cultural. “Eu acho que (o não uso da integração) é mais um receio do passageiro de desembarcar do ônibus que ele já pegou, porque o hábito da nossa população é pagar um ônibus só para chegar no seu destino”, afirmou.
Para ela, mudar este hábito do usuário do transporte público em Salvador é uma “quebra de paradigma” difícil de se conseguir.
A teoria é confirmada pelo eletricista André Luís Teles, 29 anos, que não é adepto da integração. “Eu prefiro pegar um ônibus só, mas quando demora, como está demorando, tenho que pegar dois. Já estou aqui esperando há 40 minutos, então, o próximo que passar eu vou pegar”.
Alternativa
Para o secretário, as estações de transbordo são a melhor opção para fazer a integração, por conta do fluxo de veículos. “Nessas estações, o tempo de espera é bem menor porque elas recebem carros de todos os pontos da cidade. O trajeto até a estação é mais curto e de lá é mais rápido pegar um carro para o destino final”, disse.
Quem já usa o serviço, aprova. “Eu trabalho no Itaigara e moro em Tancredo Neves. Se fosse esperar pra ir direto, levaria mais de uma hora. Aí eu pego um de lá para o Iguatemi e daqui eu pego outro pro Itaigara. Às vezes, levo meia hora”, contou Fábio Carvalho, que durante a entrevista precisou correr para não perder o coletivo.
Por Clarissa Pacheco e Gil Santos
Informações: Correio 24 Horas
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