O Programa de Requalificação do Centro de Belo Horizonte, o “Centro de Todo Mundo”, prevê a implantação de 17,2 km de faixas exclusivas para ônibus. As intervenções devem começar a partir da próxima semana, conforme anunciado pela prefeitura nesta segunda-feira (6). A primeira via a receber a nova instalação será a avenida Augusto de Lima.
Especialistas alertam, no entanto, que a medida não passa de um paliativo, já que a solução seria investir em outros meios de transporte. Os analistas consideram ainda que 17,2 km "é pouco" quando se pensa no tamanho da capital.
Atualmente, a cidade tem 52 km de faixas exclusivas para ônibus. Com o anúncio dessa segunda-feira (6), o aumento será de 32,6% passando para 69 km. Especialistas em trânsito consideram o aumento tímido e pouco eficiente.
Para o professor de Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Andrés, o corredor exclusivo de ônibus é importante, porém, “17 km é muito pouco”. “A Prefeitura de São Paulo fez 400 km em três anos, a de Belo Horizonte tem condições de fazer muito mais. Mesmo assim, que bom que vai fazer, pois o ônibus transporta mais pessoas que o automóvel utilizando o mesmo espaço viário. Enquanto um ônibus transporta 50 pessoas, dois carros, no máximo, levam quatro em cada", analisou.
Já o espelicalista em trânsito Márcio Aguiar avalia que a implantação de faixa exclusiva não passa de "um paliativo", além de trazer outras questões, como as desapropriações. “O ônibus continuam no trânsito e é necessário que ocorra fiscalização para que elas (faixas) não sejam invadidas. O resultado nunca é o esperado. Digo que faixa exclusiva e outras intervenções do tipo, como os corredores, são complicadas, pois é necessário ter área para a expansão. Na avenida Antônio Carlos, por exemplo, foi preciso que ocorresse a desapropriação”, afirma.
Investir em outros modais do transporte público é essencial para o fluxo da cidade, segundo Aguiar. “Se não fizermos investimentos de infraestrutura para trazermos outros modais, o paliativo não adianta. Eles até funcionam, mas sem a efetividade que gostaríamos. Para resolver o trânsito e principalmente o transporte público é preciso união dos governos municipal, estadual e federal. A cada ano, os problemas aumentam e nada é resolvido”.
“A alternativa é buscar outros modais, metrô, monotrilho, sei que é difícil, mais caro e demorado, mas precisamos sair do ônibus. Caso contrário, vamos ficar andando em círculos. Faz [a faixa exclusiva] e acha que melhora e não se caminha para a solução definitiva”, complementa Aguiar.
Quem também defende o incentivo aos meios de transporte público é a especialista em trânsito Roberta Torres. Ela destaca que a efetividade das faixas exclusivas para ônibus seriam mais eficientes se não tivéssemos tantos veículos nas ruas. “As vias são a nossa única possibilidade de trafegar. A cada ano o número de carros só aumenta e o que temos visto é a ampliação de vias, que incentivam o uso do transporte individual, ao invés do investimento em outros modais, como o metrô, por exemplo. O que fazemos vai na contramão de muitos países”.
Mais opções de locomoção para a população desencadearia benefícios para todos, segundo Roberta. “A premissa básica do CTB (Código Brasileiro de Trânsito) é o trânsito em condições seguras, pois é direito nosso e dever dos órgãos. A fluidez é importante para a cidade funcionar bem, pois o transporte está relacionado à qualidade de vida. A conexão entre os modais também contribui para melhor mobilidade. Quando comparamos BH com outros municípios, vemos que o investimento poderia ser melhor”.
Análise do sindicato
A implantação de faixas exclusivas para ônibus é demanda do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH). Procurada pela reportagem, a entidade afirmou que toda intervenção de melhoria para a população é bem-vinda e que se posicionará sobre o anúncio das novas faixas após analisar o projeto.
O tempo de duração da intervenção das novas faixas não foi informado, no entanto, o prefeito Fuad Nomam (PSD) ressaltou que algumas obras do projeto não serão concluídas na administração dele. “Tem obra para até cinco anos. O que estamos fazendo é deixar todos os projetos iniciados e alguns talvez concluídos. Quero fazer o máximo que puder. Tem obra para três meses e cinco anos. Quem promete o impossível está mentindo”. A PBH foi questionada se será preciso ocorrer desapropriações, mas não respondeu até a publicação da matéria.
O projeto
A iniciativa da PBH acontece em várias etapas, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O primeiro projeto está concluído, e as obras devem começar na próxima semana. “Na primeira fase serão implantadas faixas exclusivas para ônibus na avenida Augusto de Lima, entre a Praça Raul Soares e a avenida do Contorno, que vão se interligar ao outro trecho já existente na Augusto de Lima, após a Praça Raul Soares”, informou o Executivo municipal, em nota. No entanto, as demais etapas não foram detalhadas.
Faixas exclusivas
Locais com trechos de faixas exclusivas em Belo Horizonte:
Avenida Antônio Abrahão Caram
Avenida Augusto de Lima
Avenida Coronel Oscar Paschoal
Avenida Cristiano Machado
Avenida do Contorno, entre Av Barbacena e a Rua Rio de Janeiro, sentido Carlos Prates/Área Hospitalar (faixa exclusiva entre 6h e 19h30)
Avenida do Contorno e dos Andradas, entre a Rua Rio de Janeiro e a Alameda Ezequiel Dias, sentido Carlos Prates/Área Hospitalar (faixa exclusiva 24 horas)
Avenida dos Andradas, entre Alameda Ezequiel Dias e Viaduto da Floresta, sentido Área Hospitalar/Carlos Prates (faixa exclusiva 24 horas)
Avenida dos Andradas, entre a Avenida do Contorno (Perrela) e a Avenida Mem de Sá, sentido Centro/Bairro (faixa exclusiva entre 6h e 9h)
Avenida Dom Pedro II
Avenida João Pinheiro
Avenida Nossa Senhora do Carmo
Avenida Oiapoque
Avenida Presidente Carlos Luz
Avenida Professor Alfredo Balena
Avenida Risoleta Neves
Avenida Vilarinho
Praça Manoel Jacinto Coelho
Praça Rio Branco
Rua Goiás
Rua Padre Belchior
Viaduto da Lagoinha
Viaduto Leste
Viaduto Paulo Mendes Campos (saída da Estação São Gabriel)
Faixas exclusivas de ônibus - circulação aos sábados, domingos e feriados
É permitida a circulação de outros veículos aos sábados, a partir das 14h, domingos e feriados durante todo o dia, nos seguintes locais:
Avenida Augusto de Lima, entre Avenida João Pinheiro e Rua São Paulo, neste sentido;
Avenida Augusto de Lima, entre Rua Curitiba e Avenida João Pinheiro, neste sentido;
Avenida Carlos Luz, em toda sua extensão;
Avenida Cristiano Machado, entre o Anel Rodoviário e a Avenida Vilarinho;
Avenida João Pinheiro, entre Rua dos Guajajaras e Rua Goiás, neste sentido;
Avenida Nossa Senhora do Carmo, entre Rua Valparaíso e Avenida do Contorno, neste sentido;
Avenida Nossa Senhora do Carmo, entre Rua Outono e Rua Valparaíso, neste sentido;
Avenida Pedro II em toda sua extensão;
Avenida Professor Alfredo Balena, entre Rua Padre Rolim e Praça Hugo Werneck, neste sentido;
Avenida Professor Alfredo Balena, entre Praça Hugo Werneck e Rua Pernambuco, neste sentido;
Rua Padre Belchior, entre Avenida Amazonas e Rua Curitiba, neste sentido;
Rua Padre Belchior, entre Rua São Paulo e Rua Curitiba, neste sentido;
Rua Goiás, entre Avenida João Pinheiro e Rua dos Guajajaras.
Fora do horário citado, os veículos podem usar as faixas exclusivas apenas para realizar as conversões à direita, acessar garagens (guia rebaixada) ou parar para embarque e desembarque de passageiros onde for permitido.
Para realizar as conversões, o motorista deve observar bem e só acessar a faixa onde houver pintura com linhas tracejadas (pintura branca). Onde houver a linha contínua, é proibido trafegar.
Faixas exclusivas operacionais
Rua Espírito Santo (entre rua dos Caetés e avenida do Contorno)
Rua Itajubá (entre rua Curvelo e avenida do Contorno)
Rua Niquelina, entre as ruas Fluorina e Cel. Antônio P. da Silva.
Rua Domingos Vieira, entre a avenida do Contorno e rua Piauí.
Ruas Olinto Magalhães, Rio Pomba e Três Pontas, entre Rua Pelotas e Av Pedro II.
Informações: O Tempo