O primeiro dia útil de funcionamento do Bilhete Único Carioca (BUC) e de operação dos quatro consórcios de ônibus (Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca), vencedores da licitação feita pela prefeitura, foi marcado segunda-feira por falta de informação e preocupação dos passageiros. Na Zona Oeste, muitas pessoas não sabiam como usar o sistema e não tinham com quem tirar dúvidas. Além disso, os cariocas ainda não sabem ao certo se o BUC será uma alternativa válida, por causa do limite de tempo de utilização entre as duas viagens - duas horas entre as roletas - e os enormes congestionamentos da cidade.
Moradora de Jacarepaguá, a técnica de laboratório Aline Cavalcanti perdeu o direito à integração logo no primeiro dia. Ela disse que o tempo de uso é curto, se comparado com o necessário para se deslocar no trânsito carioca. Aline demorou cerca de duas horas e 15 minutos de Jacarepaguá até a Central do Brasil. Segundo ela, os congestionamentos na Linha Amarela e na Avenida Brasil são constantes, e ainda há uma obra na altura da Fiocruz que prejudica mais o trânsito:
- Eu acho que esse tempo deveria ser de no mínimo três horas nos horários de pico. Quem mora longe vai perder esse direito quase sempre.
Vistoria: maioria das linhas estava fora das regras
Também houve queixas de passageiros que usaram os ônibus com a nova padronização dos consórcios. A secretária Renata Afonso embarcou na Central, às 16h, num ônibus da linha 179 (Central-Recreio, via Linha Amarela), que parou a viagem antes do fim. Ao chegar em frente ao BarraShopping, um fiscal pediu aos passageiros que saltassem e embarcassem em outro coletivo da linha 179, que faz um percurso via Jockey. O ônibus vazio retornou para o Centro.
- Peguei o 179 via Jockey cheio. Antes eu estava sentada. Depois tive que viajar em pé até a minha casa, no Recreio. Levei uma hora e 20 minutos até o BarraShopping e mais uma hora, em pé, até o Recreio. É um absurdo. Ainda mais se levar em consideração que o preço da passagem aumentou, de R$ 2,35 para R$ 2,40 - reclamou Renata.
Na Urca, os novos ônibus da linha 107 (Central-Urca), maiores do que os da empresa Amigos Unidos, que deixou de operar, eram motivo de preocupação para alguns moradores.
- São ônibus imensos para circular pelas ruas estreitas da Urca. Atravancam o trânsito e podem bater em carros estacionados - disse o funcionário público Walter Franca, de 26 anos.
A Subsecretaria de Fiscalização da Secretaria municipal de Transportes constatou que 82% (173) das 210 linhas vistoriadas segunda-feira até as 19h estavam em desacordo com as novas regras. Como aconteceu no fim de semana, a falta do adesivo obrigatório identificando o consórcio voltou ontem a ser a principal falha identificada pelo órgão. A subsecretaria flagrou ainda linhas com a frota abaixo do número exigido. Por enquanto, não estão sendo aplicadas multas: os consórcios estão sendo advertidos e orientados.
Segundo o Rio Ônibus (sindicato que reúne as empresas do setor na capital), todos os coletivos estarão com adesivos dos consórcios até o fim desta semana. A entidade nega que as empresas tenham colocado menos ônibus em algumas linhas. No fim de semana, a Subsecretaria de Fiscalização vistoriou 373 linhas, encontrando problemas em 275 (73,7%). O órgão alega que o índice de irregularidades inferior ao de ontem se justifica pela menor quantidade de veículos em circulação nos fins de semana.
Em Campo Grande, enquanto fiscalizava as linhas administradas pelo consórcio Santa Cruz, no sábado, a prefeitura flagrou dois ônibus da empresa Padre Miguel. Os coletivos não pertenciam a nenhum dos quatro consórcios autorizados a prestar o serviço na cidade e foram removidos para um depósito.
De acordo com o diretor-executivo de Negócios do RioCard, Edmundo Fornasari, 12% (305 mil) das viagens de ônibus feitas no último fim de semana foram de integração municipal. Segundo ele, foi feito um total de 1,46 milhão de viagens usando cartão, no sábado e no domingo. Mais 1,4 milhão de viagens foram pagas com dinheiro. Os números de ontem só estarão disponíveis hoje.
- Para o primeiro fim de semana do bilhete único, o número de usuários foi bom. Nossa expectativa é chegar a 20% dos usuários em até seis meses - disse Fornasari.