Trafegar com segurança em Manaus é uma tarefa que exige paciência, especialmente dos ciclistas. Com poucas faixas exclusivas para o modal, os amantes das bikes precisam se espremer entre carros de passeios e veículos de grande porte para chegar aos seus destinos.
Três dias após a morte do ciclista Antônio Simão de Lima, 61, que foi atropelado por um ônibus na avenida Djalma Batista, na Chapada, na Zona Centro-Sul, A CRÍTICA foi às ruas para conhecer em quais condições motoristas e ciclistas trafegam nas principais vias da capital.
A regra é clara: de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), as faixas da direita são destinadas aos veículos mais lentos e de maior porte, desde que eles não possuam uma faixa especial, enquanto que as da esquerda são destinadas à ultrapassagem e ao deslocamento dos veículos de maior velocidade. O CTB também prevê que quando um veículo motorizado disputa o espaço com uma bicicleta, o motorista deve manter um distanciamento lateral de 1,5m do ciclista, para garantir a segurança de ambos na via. Mesmo sabendo das normas de trânsito, motoristas ignoram as regras e criam as próprias leis.
Briga por espaço
A avenida Djalma Batista, por exemplo, possui 18m largura e é divida em três faixas em cada sentido. Cada faixa possui 3m de largura. Num espaço como esse, de acordo com os motoristas, é impossível manter a distância determinada pelo CTB, se um ônibus, por exemplo, possui 2,5m de largura.
“Existe muito desrespeito, o espaço é pequeno, por isso não dá para dois veículos ocuparem a mesma faixa. Além disso, as pessoas não tem educação no trânsito, o que piora a situação”, avalia o vendedor Saraiva da Silva, 48.
Ele contou que pedalou durante 10 anos, mas desistiu porque tinha dificuldades de passar pelas ruas. Hoje, Saraiva é motorista e reconhece que a vida deve ser preservada. “Não tenho problemas em dar a preferência a eles porque pedalei e sei como é. Como não dá para manter a distância, eu troco de faixa”, garantiu ele.
O funcionário público José Augusto Gomes, 39, fez diferente. Ele desistiu do transporte público e adotou a bicicleta como meio transporte. “Há um ano e meio uso de bicicleta para ir para o trabalho. Infelizmente, muitos motoristas não nos respeitam e às vezes nos colocam em risco.
Eu escapei de sofrer vários acidentes porque os motoristas de ônibus são os primeiros a passarem colados na gente. Algumas vezes, me vejo obrigado a andar pela calçada para evitar um acidente”, destacou José que pedala da casa dele, no bairro São Jorge, na Zona Oeste, até o Alvorada, na Zona Centro-Oeste.
Compartilhar as pistas é necessidade em Manaus
Para o Instituto Municipal de Trânsito (Manaustrans), o maior problema no sistema é a falta de consciência. De acordo com o diretor do Departamento de Controle e Gestão do órgão, Antônio Costa Neto, a largura padrão de cada faixa de rolamento varia entre 2,5m a 3m, justamente para que cada modal ocupe seu espaço. “A faixa é para todos. Assim, se o ciclista está na via, ele também tem que ter seu espaço respeitado”, diz.
Costa Neto explica que a disputa de dois veículos pelo mesmo espaço é incorreta e que o certo é os veículos circularem em fila indiana.
“É necessário acabar com esse espírito de disputa. Uma porta aberta de um ônibus é suficiente para causar um acidente com uma moto ou bicicleta”.
Ainda de acordo com o Manaustrans, a margem de segurança lateral para qualquer veículo é de 1,5m. Ele também reforçou que para ultrapassar um ciclista, o motorista deve trocar de faixa, executar a ultrapassagem e depois sim, pode retornar à faixa da direita.
“As bicicletas circulam na faixa da direita porque a velocidade que elas imprimem é menor em relação aos veículos motorizados. Não precisa disputar pelo espaço”.
Para o cicloativista, Keyce Jhones, o poder público, seja ele municipal ou estadual, não cumpre o papel de priorizar o trânsito dos mais vulneráveis, como pedestres e ciclistas. Para ele, a prioridade ainda tem sido dada mais aos veículos motorizados.
“É fundamental que os gestores tenham em mente que a bicicleta é um meio de transporte. O compartilhamento é perfeitamente possível. Mas como ainda não temos a cultura de respeito ao próximo, em que todos nós somos parte do trânsito, é fundamental a nossa luta por ciclovias, pois elas salvam vidas e são uma questão de segurança”, afirmou.
Por Kelly Melo