Inspiração para a escolha do modal de transportes para a Copa de 2014 em Cuiabá, o VLT da cidade do Porto, em Portugal, fechou as contas de 2011 com um prejuízo de quase R$ 1 bilhão. Em 10 anos de operação, o sistema acumula 10 balanços anuais negativos e, em relação a 2010, teve sua situação financeira agravada em 12,7%. A dívida acumulada é de R$ 7,7 bilhões.
“Os resultados do exercício são significativamente negativos”, afirmou António Ricardo Fonseca, presidente do Metrô do Porto, em relatório aprovado em março passado.
Em abril de 2011, uma comitiva liderada pelo governador Silval Barbosa (PMDB) esteve na cidade portuguesa para conhecer em detalhes a operação do modal. À ocasião, o governador se declarou “impressionado” com a “eficiência” do VLT e, após encontro com representantes da operadora do sistema, disse ter considerado a reunião “esclarecedora”.
“Precisamos encontrar uma solução para Cuiabá que tenha eficiência similar a que encontramos no transporte público aqui no Porto”, disse o governador, em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação.
A opção pelo VLT foi feita pouco tempo depois e levou em conta, entre outros fatores, um estudo de viabilidade técnica produzido pela consultoria portuguesa Ferconsult. Segundo a Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (APPC), a empresa foi a mesma que produziu o relatório que atestou a viabilidade técnica e econômica do deficitário VLT do Porto.
Em 2002, quando a primeira linha foi lançada, o modal português se estendia por 11 quilômetros, com 18 estações. Naquele ano, o prejuízo foi de R$ 62 milhões.
Em 2011, as linhas já se estendiam por 66,5 quilômetros, com 91 estações. O balanço foi negativo em R$ 959 milhões.
O resultado se deveu, em grande medida, ao peso das operações financeiras que bancaram a implantação do sistema — custo que, no caso de Cuiabá, será integralmente assumido pelo Estado. Ocorre que, ainda que inexistissem débitos a amortizar, o VLT português seguiria no vermelho: em 2011, o total arrecadado com bilhetes cobriu apenas 88,7% dos custos operacionais.
Recentemente, em resposta a questionamentos de deputados estaduais e do senador Pedro Taques, a Secretaria Extraordinária da Copa Fifa 2014 defendeu a viabilidade econômica do sistema – que terá duas linhas totalizando 22,5 quilômetros. Nas respostas, disponibilizadas na internet, a Secopa apresentou “números de referência” para sinalizar que o custo por passageiro do modal poderá ficar em cerca de R$ 1,75.
Em Portugal, os bilhetes do VLT variam entre R$ 2,60 a R$ 8,40, mas contam com 40% de subsídio oficial. A Secopa, porém, disse aos parlamentares que, antes da definição de um sistema integrado VLT-Ônibus, será “impossível” estabelecer um valor para a tarifa do novo modal.
“A tarifa (...) é obtida pela razão entre o custo operacional e o número de passageiros pagantes do sistema. Como estes dois itens ainda não são conhecidos, torna-se impossível apresentar qualquer cálculo tarifário real ou exato”, disse a secretaria.
Na semana passada, quando questionado sobre o tema, o secretário Eder Moraes disse que não iria fazer “exercício de futurologia”. “O fato é que, nas condições que temos hoje, a tarifa do VLT seria inferior à do transporte coletivo”.