Fim do dia em Brasília. As paradas de ônibus estão lotadas de pessoas ansiosas para chegar em casa. O desconforto é grande. Estruturas pequenas impossibilitam a permanência da grande quantidade de passageiros embaixo da proteção. Os bancos são insuficientes para tenta gente. Alguns pontos não têm teto. As paradas estão sujas, pichadas e tomadas de papéis de propaganda. Algumas estão mofadas, com infiltrações e correm o risco de desabar. Nenhuma parada tem informação para o passageiro de primeira viagem, que é obrigado a se consultar com o dono da banca de jornal ou o camelô.
O Distrito Federal conta hoje com 3.948 pontos de ônibus. Desses, 2.549 contam com a armação de concreto e 889 são apenas placas de trânsito. O DFTrans, órgão ligado à Secretaria de Transportes e responsável pelos pontos, promete 450 novas paradas de concreto até agosto deste ano. O padrão de concreto armado e pré-fabricado em formato de um “L” de cabeça para baixo será mantido. “Quando chove, a laje inclinada leva a água para trás. Assim, a manutenção efetiva é mais barata”, explicou o gerente de Planejamento e Projetos do DFTrans, Jorge Luís Miranda Nazaré.
Santa Maria ganhou novas paradas de ônibus há aproximadamente dois meses. Os pontos do Sudoeste e da Área Octogonal são, aos poucos, revitalizados. Manteve-se o padrão, mas a área construída foi triplicada e duas rampas de acesso a portadores de deficiência física, instaladas. A doméstica Zenira Barbosa de Sousa, 43 anos, aprovou a reforma do ponto da Estrada Parque Taguatinga nas proximidades da Octogonal. “Antes, chovia dentro da parada, molhava todo mundo. Agora, além de mais bancos para sentar, estamos mais seguros”. Durante esta semana, o Correio percorreu as ruas do DF e identificou vários casos de degradação das paradas de ônibus.
- Em vários pontos do DF, a parada de ônibus é identificada apenas por uma placa. Sem cobertura, estrutura de proteção, iluminação ou bancos, os passageiros ficam nas calçadas. Na maioria dos casos, não há recuo para o veículo parar e ele ainda atrapalha o trânsito na via. Os moradores do Setor P Sul, em Ceilândia, passam por essa situação diariamente. A realidade se repete na Via Estrutural, onde poucas paradas contam com a cobertura.Em frente à Cidade do Automóvel, uma placa na beira da via reúne passageiros que trabalham nas concessionárias e nas lojas de carro no fim do dia. Ali não tem calçada, recuo para o ônibus, ou qualquer estrutura para o passageiro. Todos se equilibram no meio-fio, ficam na grama, e, quando veem o ônibus, têm de ir até o meio da pista —, cuja velocidade é de 80km/h — para acenar.“Aqui é a única alternativa. A outra parada é muito longe e morremos de medo de um carro desgovernado nos atingir na beira da pista”, disse o ajudante de pedreiro Geraldino Monteiro da Silva, 60 anos. O pedreiro Ivanildo Ferreira Sousa, 43 anos, acrescentou: “E tem ônibus que nem para por ser perigoso e pela falta de sinalização. Mas aqui também é parada de ônibus e precisar voltar para casa”.
Iluminação precária
Por volta das 19h, as paradas de ônibus desaparecem no breu da W3 Norte. Mesmo com os postes acesos, os passageiros sofrem com a pouca luz. As paradas de concreto armado não têm iluminação própria. Quando as lâmpadas das vias públicas queimam ou simplesmente não acendem, o jeito é aproveitar os faróis dos carros ou a luz do comércio mais próximo.Modernos, os pontos de vidro fumê contam com lâmpada na parte interna da estrutura que colabora com a segurança dos passageiros. O receio de ficar na parada de ônibus depois do escurecer é comum em todo o DF.A auxiliar de farmácia Adriana Souza, 29 anos, chega à parada da 503 Norte por volta das 19h. O ônibus para Brazlândia costuma passar às 19h40. Enquanto espera, no escuro, ela abraça a bolsa com força e fica quieta no banco para não chamar a atenção. “Tem dia que todo mundo pega ônibus e eu fico aqui sozinha, no escuro”, contou.Para fugir dessa situação, Adriana costuma pegar um ônibus para a Rodoviária do Plano Piloto antes de ir para casa. Ela gasta mais dinheiro com passagem, mas garante que vale a pena pela segurança. “É mais claro e mais movimentado”, disse.
No início do ano, as paradas de ônibus da W3 Sul estavam pintadas de branco. Mas hoje, o cenário é diferente. As estruturas de tijolo e concreto estão tomadas por pichações e cartazes de propaganda. Alguns passageiros preferem esperar o ônibus em pé a sentar nos bancos. “Quando estou muito cansado e tenho que sentar, coloco um jornal em cima do banco. É tudo muito sujo”, reclamou o pintor Anézio Alves de Almeida, 28 anos. Ele sugeriu a pintura de grafite nas pa
radas de ônibus para evitar a ação de vândalos e deixar a cidade mais bonita. “Você percebe que onde tem uma arte bonita, ninguém picha em cima”, disse.Osvaldo Lima de Almeida, 22 anos, também fica incomodado com a sujeira. No caso do ponto de ônibus da 503 Sul, ele ainda reclamou da situação da calçada. Próximo à parada, pedaços inteiros do piso estavam arrancados. Algumas partes ficaram pelo meio do caminho. “É perigoso. Alguém que corre aqui prestando a atenção no ônibus pode torcer o pé”, comentou o morador do Itapoã. O amigo acrescentou: “Além disso, o buraco vira uma verdadeira lama com a quantidade de água e barro”.
Pode ser em áreas afastadas ou no coração da cidade: os moradores de Taguatinga sofrem com as más condições das paradas de ônibus em todos os lugares. Os maiores problemas são encontrados nas estruturas de concreto. No ponto próximo à C-12, na Avenida Helio Prates, os passageiros evitam ficar embaixo da laje. Com mofo, ferros à mostra e rachaduras, o medo da estrutura desabar é iminente.
Quem depende do transporte público ainda sofre com a chuva. “Quando chove, molha mais embaixo da parada do que do lado de fora. Somos obrigadas a nos proteger sob o toldo da loja”, reclamou a costureira Deuzinete de Aquino Lopes, 60 anos, moradora do Gama.Na QNH 11, o banco de concreto teve de ser apoiado em uma pedra para não cair.
Em frente ao Estádio Serejão, a parada de ônibus não tem cobertura. “O vento levou uma parte do teto no início do ano passado. Depois, algumas pessoas terminaram de quebrar”, contou o auxiliar de supermercado Edvan da Cunha Prado, 26 anos. Quem espera ônibus ali é obrigado a se proteger do sol e da chuva embaixo da passarela de pedestres. “Falta banco e informação. Alguns ônibus nem param aqui porque pensam que não é ponto de espera”, contou Edvan.
Fonte: Correio Brasiliense