" Às vezes, espero até quatro composições do metrô passarem antes de conseguir entrar num e seguir da Central até a estação da Glória "
- Há cerca de um ano venho reparando que as estações estão inchadas. Às vezes, nas horas de rush da manhã e da noite, eu preciso esperar até quatro composições do metrô passarem antes de conseguir entrar num e seguir da Central até a estação da Glória. Já vi a porta não conseguir fechar, e os seguranças da estação tendo que chutar para ela fechar - afirmou o contador.
O administrador de empresa Ângelo Mascia, que mora em Irajá, onde existe uma estação, precisou dar o seu jeitinho para conseguir usar o transporte: ele vai todos os dias de carro até o Engenho da Rainha para pegar um trem extra, que, segundo ele, sai mais vazio.
- O problema é quando eles colocam o 'trem curto' saindo de lá, porque fica lotado. É um absurdo, mas se eu fosse pegar o metrô na estação de Irajá, eu esperaria até oito carros antes de conseguir entrar em algum, e ainda me estressaria. Uma vez uma pessoa se jogou em cima de mim e quase machucou um casal de idosos só para não perder o metrô - afirmou o administrador, que salta no Estácio e ainda pega a linha 1 para a Carioca.
O Metrô Rio transporta atualmente 550 mil pessoas por dia, cerca de 6% maior que 2007, que já havia registrado um aumento de 10% em relação ao número de usuários em 2006. De acordo com a concessionária o motivo desse aumento de passageiros, que tem deixado as estações lotadas principalmente nos horários de rush, foi a falta de renovação da frota, ou seja, apesar do aumento no número de estações, não houve um aumento no número de carros.
Para o professor Rômulo Orrico, do departamento de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, no entanto, além do número de carros, a falta de priorização do transporte público também pode explicar em parte o problema.
- Todo o sistema viário da cidade foi pensado para carros particulares. Um exemplo são as construções de garagens públicas recentes, que passam a seguinte mensagem: 'venha para o trabalho de carro'. Sem um investimento ou uma rede pensada para o transporte público, o número de carros nas ruas aumenta e, conseqüentemente, o trânsito piora. Não é o transporte público que causa congestionamento, mas são os carros. Ou seja, o usuário acaba pagando pelo engarrafamento que não causou - afirmou.
Além disso, o professor ressaltou ainda a falta de um planejamento dos corredores viários da cidade, que continuam da mesma forma que eram quando o coração administrativo e financeiro da cidade ficava quase que exclusivamente no Centro.
- A cidade se desenvolveu, mas a rede de transporte público não acompanhou. Antigamente, a cidade era monocêntrica, ou seja, a tendência era que o deslocamento fosse todo para o Centro, onde tudo ficava. Hoje em dia, isso mudou, ela é policêntrica. As coisas estão muito mais espalhadas. Um exemplo disso é o volume de usuários de trem, que diminuiu. Isso porque mudou a relação do transporte com a cidade. O problema é que os corredores viários não foram mudados - disse, lembrando que o Rio está num bom momento para começar a fazer essa discussão:
- Muitas concessões estão começando a vencer. Ou seja, é hora de começar a debater sobre esses contratos e repensar essas rotas.
Alívio só começa a partir do final do ano que vem.
" Eu moro em Irajá, mas prefiro pegar o metrô da estação do Engenho da Rainha durante a manhã, pois sempre sai um extra. O problema é quando eles colocam o 'trem curto' saindo de lá, porque fica lotado "
A direção do Metrô Rio reconhece que o problema da superlotação nas estações é crítico. De acordo com o diretor de Relações Institucionais do Metrô Rio, Joubert Flores, no entanto, a vida dos passageiros só deve começar a melhorar no fim do ano que vem, quando ficar pronta a obra que vai criar duas novas estações, o que vai acabar com a transferência da linha 1 para a linha 2 no Estácio.
- Quando assumimos o metrô, há dez anos, nosso contrato previa apenas a operação dos carros. O investimento em novas composições era contrapartida do governo. Apesar disso, não foi exatamente o que aconteceu. Para cada estação que era inaugurada, o governo deveria comprar novos carros, mas até hoje não recebemos os carros novos para as estações Siqueira Campos e do Cantagalo. Com o aumento do número de usuários, a gente percebeu a necessidade desse investimento em mais carros, mas só a partir do fim do ano passado que nós assumimos esse papel, com a renovação do nosso contrato de concessão - afirmou Joubert, que lembrou que a compra de novos carros já está prevista:
- Estamos comprando 114 novos carros, o que vai aumentar a nossa frota em 66%, acabando com os trens curtos. Além disso, com a construção das novas estações, só quem precisa ir para Copacabana ou para a Tijuca vai fazer a transferência no Estácio, o que vai diminuir muito o fluxo de passageiros, que vai ficar mais bem distribuído. O problema é que nada disso é rápido. A ligação Pavuna-Botafogo, que vai diminuir a viagem em até 13 minutos, só deve ficar pronta no fim do ano que vem. A instalação dos novos carros também só deve ser concluída em três anos.
" Para cada estação que era inaugurada, o governo deveria comprar novos carros, mas até hoje não recebemos os carros novos para as estações Siqueira Campos e do Cantagalo "
Em nota, a secretaria de Transportes afirmou que a responsabilidade de comprar novos trens para as estações de Siqueira Campos e do Cantagalo, que foi inaugurada em 2007, durante o governo Sérgio Cabral, seria das administrações anteriores, e afirmou que prefere não se pronunciar sobre o assunto. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a solução adotada pelo governo atual para ampliar o sistema metroviário, considerando as restrições orçamentária, foi buscar um acordo com a concessionária visando investimentos privados que englobam não só um aumento de 60% na frota de carros, mas também a construção de duas novas estações, além de melhorias nos sistemas elétrico, de sinalização e segurança, entre outros pontos.
Depois que as obras estiverem prontas, a previsão é que o metrô possa receber o dobro de passageiros que transporta por dia, que atualmente chega a 550 mil. Por enquanto, a concessionária afirma que está reformando os carros antigos, além de investir em campanhas educacionais, como a que orienta os passageiros a não ficar na frente da porta.
A falta de educação, aliás, é uma das principais reclamações de uma usuária do carro das mulheres, que preferiu não se identificar:
- O vagão das mulheres deveria funcionar o dia inteiro. Já vi uma mulher prender o braço na porta por causa da superlotação do carro, que estava com homens dentro. Ela deu um grito, e depois a porta abriu e ela saiu. Nem sei como ficou o braço dela - disse.
Outra leitora, que não quis se identificar, relatou que já viu até desmaios dentro do metrô por causa do forte calor:
" Graças a Deus eu nunca tive problemas com o excesso de calor, mas é muito freqüente, nos horários de grande movimento (manhã e noite), uma ou outra pessoa desmaiar "
- O ar-condicionado pára de funcionar quando o vagão está superlotado, e não mantém a temperatura agradável como deveria. Graças a Deus eu nunca tive problemas com o excesso de calor, mas é muito freqüente, nos horários de grande movimento (manhã e noite), uma ou outra pessoa desmaiar. Quando isso acontece, os passageiros acionam o alarme de emergência e na estação mais próxima os seguranças retiram a pessoa para que seja atendida fora do vagão - relatou.
Segundo o diretor de relações institucionais do metrô, com a reforma dos carros, a idéia é que o problema com o ar condicionado melhore. Segundo ele, o problema, que afeta principalmente os passageiros da linha 2, acontece porque os carros têm um sistema de ar condicionado planejado para funcionar em uma área subterrânea. O problema, de acordo com ele, é que parte do trajeto da linha 2 é feito ao ar livre, sob o sol.
- Os novos carros terão um sistema de ar condicionado projetado para isso. Enquanto isso estamos mexendo no sistema dos carros antigos, que estão sendo reformados.