Outro problema muitas vezes negligenciado nos debates sobre mobilidade é a enorme desigualdade social e econômica nas cidades, que obriga milhões de pessoas a se deslocarem por grandes distâncias para chegar ao local de trabalho e ter acesso a equipamentos e serviços públicos.
Vejamos o caso de São Paulo: as subprefeituras de Ermelino Matarazzo e M'Boi Mirim estão entre as que têm indicador zero de acervo de bibliotecas municipais infanto-juvenis per capita. E as subprefeituras de Perus, Parelheiros e Cidade Ademar estão entre as que registram indicador zero de leitos hospitalares.
Todas as cidades que estão de fato enfrentando os problemas da mobilidade estão reorganizando o espaço urbano e as políticas públicas para que as pessoas possam ter acesso a trabalho, serviços de saúde, estabelecimentos educacionais, cultura, lazer e serviços públicos em geral nas imediações de suas residências. O uso do transporte motorizado passa a ser opcional, e não obrigatório.
Não há outra saída, nem aqui, nem em nenhuma outra cidade do mundo, que não seja priorizar o transporte coletivo e o transporte não motorizado, facilitar a locomoção dos pedestres e de portadores de deficiências, incentivar o uso das bicicletas, cuidar da segurança das pessoas, reduzir a poluição do ar e a sonora e combater a desigualdade.
É o obvio, mas foi necessário criar um Dia Mundial sem Carro e, infelizmente, chegar ao caos na mobilidade para que sociedade e governos pudessem reconhecer erros passados e se debruçar sobre propostas e mudanças de rumo.